A cifra impressiona. Somente nos Estados Unidos, onde a técnica foi criada, o coaching é responsável por movimentar mais de 2,3 bilhões de dólares anualmente, conforme balanço da International Coach Federation (ICF). No Brasil, mesmo sem dados oficiais sobre o assunto, é possível perceber que se trata de um mercado que ganha força a cada dia, tendo em vista a multiplicação de profissionais que oferecem o serviço, bem como o aumento da procura por parte do público.
Mas, afinal de contas, o que é coaching?
O Instituto Brasileiro de Coaching (IBC) define a técnica como "um processo de desenvolvimento humano, pautado em diversas ciências, como psicologia, sociologia, neurociências e programação neurolinguística", segundo artigo assinado pelo presidente da entidade, José Roberto Marques. Ou seja, estamos falando de um método plural, que pode ser utilizado tanto na esfera pessoal (para organização financeira, por exemplo) quanto profissional (para mudança de carreira ou busca por promoções no emprego).
Com cinco anos de atuação como coach de emagrecimento em Caxias do Sul, a nutricionista ortomolecular Clarisse Zanette segue a mesma linha de raciocínio. Conforme a profissional, a figura do coach se assemelha a de um treinador esportivo, que orienta sua equipe em busca dos melhores resultados.
— É um processo que ajuda a levar as pessoas de um ponto A para um ponto B. Você quer ter um emprego melhor, mas não sabe como chegar; ou quer emagrecer, mas não sabe por onde começar... Aí entra o trabalho do coach, ajudando no planejamento, no passo a passo — resume.
E por quê o coaching ganhou tanta importância nos últimos tempos?
A psicoterapeuta Maria Marlene Faria, que atua como coach desde 2010, acredita que a expansão desse mercado esteja relacionada ao mundo acelerado em que vivemos, onde buscamos repostas ágeis para os problemas cotidianos e cada vez mais autonomia profissional:
— A pessoa que busca a psicoterapia quer trabalhar sofrimentos e situações mais demoradas. Já no coaching, a pessoa vem com uma meta mais específica. Me parece que estão buscando objetivos mais rápidos. É por isso que a procura por abordagens como o coaching, que foca no desenvolvimento das forças pessoais, está crescendo cada vez mais — destaca.
Tendo em vista esse cenário, a reportagem do Almanaque visitou nas últimas semanas quatro profissionais que atuam como coach em Caxias do Sul, nas áreas de emagrecimento, desenvolvimento pessoal, gestão de carreira e imagem. Confira:
Para além da dieta
— O coaching me ajudou a ser regrada, ter planejamento e saber a diferença entre fome e vontade. Aprendi a lidar com a chamada fome emocional e não comer por compulsão. Já se foram 40 quilos.
O relato da microempreendedora Juliana Haas Ávila, 34 anos, ajuda a compreender o funcionamento do Programa Mente Magra, processo desenvolvido pela clínica caxiense Corpore Sano. Antes de recorrer ao coaching, Juliana fez de tudo para emagrecer, inclusive uma cirurgia bariátrica ainda na adolescência. Depois de muitas tentativas frustradas, encontrou no coaching uma maneira de reinventar sua relação com os alimentos e fazer as pazes com a vida saudável.
— Posso dizer que hoje eu entendo meu corpo e o coaching foi fundamental para isso. Tanto que fiz o processo em 2017 e repeti no ano passado — revela.
Fundada em 2014 pela nutricionista ortomolecular Clarisse Zanette, a Corpore Sano atua com foco no tripé saúde, emagrecimento e beleza. São cerca de 30 atendimentos diários, com pacientes de Caxias do Sul, Flores da Cunha e Farroupilha.
O processo oferecido pela clínica é semanal, com nove encontros, que incluem informações nutricionais e estudo de um livro que apresenta 16 ferramentas do coaching, como ponto de motivação, dificuldades, crenças limitantes, vícios do dia a dia e resultados esperados.
— É preciso estar alinhado com foco e determinação. Coach é o treinador, a pessoa que vai motivar e ajudar o paciente a entender porque ele se sabota, porque come por compulsão e quais são os falsos valores da alimentação. A partir disso, a gente busca estratégias pra mudar esse comportamento — detalha Clarisse.
Depois dos atendimentos semanais, o trabalho continua com encontros em grupos e acompanhamento virtual. Tudo pensado para manter o foco, considerando que a perda de peso está diretamente relacionada à manutenção dos hábitos saudáveis.
— O emagrecimento está muito além de uma dieta e mudar a rotina alimentar não é tão simples. É preciso sair da zona de conforto e fazer diferente todos os dias. Estamos falando de uma batalha a longo prazo, onde o paciente pode levar um ano pra perder 20 ou 30 quilos.
Em busca de um "novo eu"
Juliana Baldissera não esconde a emoção ao afirmar que sua história de vida serve de inspiração na hora de ajudar seus clientes. Depois de enfrentar dois abortos e problemas com dependência química na família, a coach de desenvolvimento humano e organizacional encontrou na profissão o fôlego necessário para seguir adiante.
Aos 33 anos, acumula três formações na área — duas pelo Instituto Brasileiro de Coaching (IBC) e uma pelo Instituto Geronimo Theml (IGT) —, além da formação em Ciências Contábeis pela UCS. Com mais de 15 anos de vivência em gestão de pessoas, ela atende cerca de 30 clientes, entre reuniões presenciais e online. Para tanto, estabeleceu um processo de coaching baseado em cinco etapas: autoconhecimento, definição do "novo eu", planejamento, validação de ações e evolução constante.
— Como coach, eu acabo sendo a treinadora daquela pessoa, porque juntos temos grandes objetivos a cumprir. Quem me procura tem sempre um objetivo, quer atingir alguma meta. Então a gente direciona esforços para isso, com prazos e planejamento. É um processo de gerenciamento pessoal e profissional.
As cinco etapas propostas por Juliana se estendem por 12 sessões, distribuídas em quatro meses. No início, o atendimento é semanal. Depois, os encontros são realizados quinzenalmente, além de contato online com o coachee.
— Todas as etapas são embasadas em técnicas e ferramentas que possam comprovar os resultados. Assim eu consigo gerenciar os recursos que essa pessoa tem, quais são as decisões que ela precisa tomar e onde ela quer chegar dali pra frente.
Entre os objetivos mais comuns, estão a busca por mudanças no estilo de vida e melhorias na carreira profissional. No caso da bancária Kátia Gazolla, 28, o processo de coaching — em andamento desde setembro do ano passado — auxiliou na concretização de um sonho: um intercâmbio para a Austrália, marcado para junho.
— Eu tinha vontade de fazer coisas diferentes. Estava insatisfeita com os rumos da minha carreira e o coaching me ajudou a tomar decisões importantes. Vou sair do banco em maio, fazer meu intercâmbio de inglês e, quando voltar, fazer especialização para abrir meu negócio _ conta, entusiasmada.
Treino para renascer
"Você já tomou sua dose de iniciativa hoje?"
O rótulo das garrafas d'água distribuídas aos clientes do Instituto Carolina Maino (ICM) resume a provocação proposta pelo Programa Fênix. Trata-se de um processo de coaching que promete — como o próprio nome sugere — um renascimento pessoal a partir de seis pilares: desbloqueio emocional, identidade visual, emagrecimento e resgate da autoestima, constelação familiar, equilíbrio energético e desenvolvimento profissional.
Para tanto, o cliente passa por uma entrevista de triagem, onde são identificados os principais medos e obstáculos a serem superados para, posteriormente, iniciar um ciclo pensado sob medida. O número de encontros, assim como os pilares que precisam ser trabalhados, variam caso a caso.
— Quando uma pessoa precisa de ajuda, ela precisa primeiro se desbloquear emocionalmente. Não é só sentar na minha frente e traçar um plano de ações. É algo complexo e, como eu não posso ser especialista em todas as áreas, busquei outras pessoas que pudessem proporcionar isso — conta Carolina Maino, que formou sua equipe com cinco ex-clientes que decidiram largar suas profissões para explorar o universo do coaching.
Usando a experiência como empresária para ajudar aqueles que desejam dar uma guinada na vida profissional, a líder do ICM atende a mais de 25 coachees de Caxias do Sul, Farroupilha, Bento Gonçalves e Canela, além de prestar consultoria via Skype para regiões como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A inspiração para o trabalho, segundo Carolina, vem da própria trajetória:
— Eu tive uma escola de inglês por sete anos. Era proprietária de duas unidades em Caxias e fazia a gestão de outras unidades pela região. Foi aí que busquei o coaching, inicialmente para formar líderes e atingir as metas. No entanto, quando eu conheci a técnica, me apaixonei e decidi largar tudo. Já estava com 34 anos e com a vida financeira estável, mas todo um vazio enorme de não estar feliz. Toda essa experiência ajuda hoje em dia.
A empresária Ana Paula Merlin, 28 anos, é cliente do ICM desde janeiro. Ela conta ter procurado o serviço devido a uma fase repleta de incertezas, principalmente no campo familiar. Optou pelo coaching na esperança de encontrar uma solução rápida para os problemas:
— Foi o melhor investimento que poderia ter feito. Comecei a ver a vida de forma mais leve, sem tantos julgamentos. Mas é uma mudança que depende muito da gente. Não adianta só seguir os conselhos e as leituras recomendadas. É preciso estar pré-disposto a mudar — reflete Ana Paula.
De olho na imagem
— Não é sobre roupas, mas sobre pessoas.
Nani Ximendes consegue sintetizar em uma frase a importância da consultoria de imagem. Formada em Moda e Decoração de Interiores, deixou os moldes e croquis de lado para se tornar coach há cerca de 10 anos. A mudança de profissão aconteceu gradativamente, ao perceber que, mesmo com o guarda-roupa lotado, as pessoas tinham enorme dificuldade em escolher e combinar as peças adequadamente.
— Eu sempre brinco: não se pode ir à igreja com roupa de praia. Existem roupas adequadas para cada ocasião. Por isso o meu trabalho consiste em ensinar a linguagem da vestimenta para que tua imagem trabalhe a teu favor, deixando relevante tuas qualidades pessoais ou profissionais, conforme teus objetivos — enfatiza a coach.
Considerando que a imagem pessoal vai muito além da escolha do figurino, Nani ajuda suas clientes com noções de comunicação visual e códigos de vestimenta — o famoso dress code. Para tanto, analisa detalhes como gestual e comportamento, além de considerar as medidas do corpo e o tom da pele. Tudo para garantir um resultado harmonioso.
— O coaching é uma metodologia, por isso você pode adaptar para qualquer área. Mas, efetivamente, se intitular coach e determinar coisas na vida de uma pessoa demanda muito estudo e uma capacidade muito importante de ouvir o outro. No meu caso, não tem a ver com a compra de roupas, mas em ajudar na compreensão da própria imagem — finaliza.