– É que sou muito antigo – diz Erasmo Carlos, usando aquela velha tática de quem já atingiu a idade madura quando precisa justificar que não lembra de algo.
A questão da vez era se ele já havia visitado São Francisco de Paula, cidade que o recebe como atração principal do primeiro dia de Paralelo Festival, neste sábado. Talvez tenha rolado em algum momento, mas fica difícil lembrar tendo em vista seus longínquos 55 anos de carreira. Pensando bem, olhar para o passado realmente não é um costume corriqueiro para o cantor e compositor carioca. Aos 77 anos, Erasmo prefere mirar o futuro celebrando a criação artística como algo em constante movimento, e o melhor, sem se entregar às caretices que atingem outros artistas de sua geração.
— Seria fácil viver do passado, fazendo shows comemorativos à Jovem Guarda... Mas eu sou um compositor e um compositor compõe. Sou ávido pelo novo e procuro estar sempre informado, leio jornais, estou na internet, sempre tenho tema para escrever — comenta o Tremendão.
Resultado disso é a frequência com que o artista lança discos de estúdio. De 2010 para cá, por exemplo, foram três: Sexo, Gigante Gentil e Amor é Isso, respectivamente. O último trabalho chegou às lojas no ano passado e reforça a faceta romântica que sempre permeou seu trabalho. Sabiamente, Erasmo escolheu um assunto universal para manter vivo o interesse do público.
– Falo de amor, e o amor não muda, sempre existe, então, eu continuo falando. Quem não está amando agora, vai amar ainda. O amor está sempre na moda – justifica ele.
O próprio Tremendão se considera um eterno apaixonado, característica que ele deixou aflorar novamente durante a concepção de Amor é Isso. O álbum nasce do coração encharcado de sentimento do músico pela esposa, de 28 anos, com quem se casou no início do ano.
— Passei dois anos fazendo poemas para minha mulher, Fernanda. Nesse disco eu musiquei esses poemas que eu já tinha prontos, fiz o contrário do que costumo fazer. Daí pedi uma ajuda para outros poetas, como Arnaldo Antunes, Adriana Calcanhotto, Nando Reis. Faço questão dessas parcerias, e de aprender com elas novas palavras, novas harmonias. O que eu tinha que ensinar já ensinei, me interessa aprender — aponta ele, sobre o disco que tem ainda participações de Marcelo Camelo e Emicida.
Mas é claro que o relevante caminho trilhado é importante. Erasmo Carlos se enche de orgulho ao lembrar, por exemplo, do Prêmio à Excelência Musical, recebido no Grammy Latino 2018.
— Nesse mesmo Grammy, eu também estava concorrendo com meu último disco na categoria Melhor Álbum de Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa. Então, além de ter feito, eu estou fazendo. Isso me deixa muito feliz — sugere.
Até para falar do filme Minha Fama de Mau, cinebiografia que chega aos cinemas em fevereiro apresentando sua obra para outra gerações, Erasmo faz questão de manter um paralelo com o presente:
– Gosto de todas as fases que aparecem ali (no filme). Antes, tinha a inconsequência da juventude. Hoje, tenho a sabedoria da velhice. Me sinto completo.