Com uma barra de ferro como se fosse o lápis e folhas de zinco de sete metros por 1,5 metro imitando o papel, os desenhos do artista plástico Aido Dal Mass medem dois metros de altura, pesam perto de meia tonelada e ganham forma no quintal da sua casa e atelier na Rua Humaitá, bairro homônimo de Bento Gonçalves.
As cinco peças que compõem o projeto "Ameaça do Futuro da Nossa Paisagem Rural" estão em fase de acabamento, e devem ser entregues dentro de um mês aos seus destinos no interior do município, onde irão agregar à beleza natural da paisagem e prestar um tributo à vida dos colonos.
Contemplado pelo Fundo Municipal de Cultura e com patrocínio do Hotel Dall' Onder, o projeto permitiu ao artista plástico de 62 anos colocar em prática a técnica destrutivista que consiste, segundo suas próprias palavras, em desconstrução de dogmas e liberdade contra formalismos, trazendo à tona a arte que se pode encontrar até no ferro velho.
— A arte está aí para romper as teias que nos prendem, porque é a manifestação mais libertária que existe. A política e a religião podem cair, mas ela estará aí pra sempre. Dentro disso, procuro abordar o inconformismo com as ideias prontas, tornando a forma o menos estética possível, para que ela se revele o mais comum possível aos olhos das pessoas. Os dadaístas tinham razão: a arte está em tudo. O que acontece é que as pessoas estão perdendo a percepção — divaga.
O zinco foi uma aposta para o artista, que em quarenta anos de carreira já se utilizou de matérias-primas como madeira, ferro, barro e pedra. O resultado das batidas com o ferro, complementadas por toques detalhistas com ferramentas como alicate e martelo e “costuras em arame, são figuras que mais sugerem do que entregam: um pastor com seu rebanho de ovelhas, um casal de nonos contemplando o dia na varanda, um camponês degustando seu chimarrão são algumas das peças da coleção. Serão depositadas em pontos de visitação turística como a Casa da Ovelha e a Casa da Erva Mate, no Caminhos de Pedra, e o Pátio dos Escultores, na Linha São Pedro.
— O projeto nasce em defesa do interior. As pessoas estão muito voltadas para a vida urbana, reprimidas... eu sou de um tempo em que esta hora a gente estaria reunido na beira do rio, aproveitando a natureza — comenta Dal Mass.