Se não fosse por Charlie Chaplin, O Beijo, longa lançado em 1929 e dirigido por Jacques Feyder, seria o último filme mudo da história do cinema. Mas o britânico não se conformou com a falta de interesse por este tipo de produção e criou, ainda durante treze anos, obras até hoje lembradas como pérolas da época em que o som consumia Hollywood e o mundo. O romântico Luzes da Cidade (1931) e o inesquecível Tempos Modernos (1936), que convertia homens em engrenagens, são como lembranças de uma forma mais pura de cinema, onde o importante era o não dito. A genialidade de Chaplin, ator, diretor, músico, dentre outras tantas funções, será relembrada pelo Instituto Taru a partir de amanhã. Durante todas as quartas-feiras de setembro, sempre às 15h, ocorre um festival que apresentará algumas obras do artista.
— Nos primeiros dois meses do Taru, trabalhamos com uma demanda mais urgente da cidade. Agora já formamos um público e estamos criando uma programação diversificada. E o Chaplin, o maior ator de todos os tempos, é a melhor isca para atrair essa galera. São filmes que podem ser vistos tanto por alguém mais novo quanto por alguém mais velho. Escolhemos ele por esse perfil de tocar todo mundo de forma sensível — explica Robinson Cabral, um dos coordenadores do Taru, ao lado de Jaque Pivotto.
Além dos dois filmes já citados, feitos já em tempos de cinema falado, o Taru também traz de volta às telonas outras duas obras do diretor: Em Busca do Ouro (1925) e o O Grande Ditador (1940). O primeiro, apesar de não estar entre suas maiores realizações, é talvez o filme mais humano da carreira de Chaplin, já que expõe e desnuda uma das características humanas mais fortes e renegadas: a ganância. Já O Grande Ditador nasceu a partir da vontade de ridicularizar o autoritarismo que havia conduzido a Europa a uma nova guerra. Como um ato de rebeldia de Chaplin contra Adolf Hitler e o nazismo, o longa proporciona ao espectador encontrar, em meio ao seu humor característico, uma brecha para transformar a tragédia em riso, e os ditadores, que gozavam do fanatismo do povo, em homens banais e ridículos.
Influenciado por nomes como os Irmãos Lumière, Georges Méliès e D.W. Griffith, Chaplin é considerado um dos maiores nomes da história do cinema. Sem roteiros prontos, Chaplin deu, à época, uma nova forma, seja com o personagem Carlitos, mais conhecido como "O Vagabundo", talvez um dos estereótipos mais replicados até hoje, ou com seu jeito de filmar, com a câmera parada, dando espaço e protagonismo aos atores.
E é toda essa bagagem que Robinson busca trazer à tona com a iniciativa no Taru:
— Precisamos pensar em Chaplin a partir da relação que ele tem com a imagem. Na escola a gente aprende a ler, escrever, fórmulas matemáticas, mas não sabemos ler imagem. Se não entendemos a arte moderna, quiçá a contemporânea. Parece que precisamos revisitar o século passado para começar a entender o que está acontecendo agora.
AGENDE-SE
O quê: Festival Charlie Chaplin.
Onde: no Instituto Cultural Taru (Rua La Salle, 933, São Pelegrino), em Caxias.
Quando: todas as quartas-feiras de setembro, sempre às 15h.
Quanto: entrada gratuita.
PROGRAMAÇÃO
Nesta quarta, 05/09 - Luzes da Cidade (1931)
12/09 - Em Busca do Ouro (1925)
19/09 - Tempos Modernos (1936)
26/09 - O Grande Ditador (1940)
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