O quinto álbum da Yangos não poderia sair do forno em melhor momento. Brasil Sim Senhor nasce na semana seguinte ao anúncio das apresentações que o quarteto fará em Moscou, durante a Copa do Mundo, e às vésperas do embarque para representar o Brasil na Feria Internacional de la Música, em Guadalajara, no México. Antes das empreitadas pela América do Norte e Europa, os caxienses apresentam o novo trabalho no próprio quintal, nesta terça-feira. Às 20h, César Casara, Cristiano Klein, Rafael Scopel e Tomás Savaris sobem ao palco do Teatro do Sesc para um show gratuito de lançamento da turnê e do disco, por enquanto disponível apenas nas plataformas digitais.
Resultado dos últimos dois anos de andanças pelo Brasil e pela América Latina, Brasil Sim Senhor apresenta uma faceta diferente do grupo que alcançou seu voo mais alto com Chamamé (2017), indicado ao Latin Grammy de Melhor Álbum de Música de Raízes Brasileiras. Se o trabalho anterior trazia a forte influência de excursões para o nordeste argentino, à convite do violonista e produtor Dom Lucio Yanel, o presente surge com a mensagem bastante clara de combater o estranhamento que ainda provoca incluir os ritmos sulistas no que se entende por música brasileira.
– Conforme tivemos uma entrada maior nos mercados do Sudeste, Centro-Oeste e Norte, percebemos que o público não conseguia associar a música da Yangos com a da região Sul do Brasil, que ainda está um tanto quanto isolada. Isso nos instigou a cumprir um certo papel social de mostrar o quanto o som que fazemos também é brasileiro. O Rio Grande do Sul também pode ter essa imagem de uma música descontraída, feliz e muito bem situada no centro desta América do Sul em que a gente vive – analisa Casara, tecladista.
Como os quatro integrantes compõem, a Yangos conta com um banco de composições de onde partiu a pesquisa para encontrar similaridades entre os ritmos mais tradicionais que o grupo trabalha – como a milonga, o vanerão e a chacarera – com vertentes do resto do país, como o choro, o baião e o forró. Neste período, ressoaram pelo estúdio AltaVoz, no bairro Cruzeiro, vozes e batidas de artistas como Mart’nália, Maria Rita e Zeca Baleiro, que serviram como forte inspiração.
O resultado são 11 faixas que transparecem a energia característica da banda, desta vez aliada a batuques, melodias e timbres que fazem viajar por um Brasil que ainda desconhece muito do que se produz em seu próprio território, mas cujas novas gerações demonstram uma revigorada intenção de trazer à tona.
– A gente percebe um interesse muito grande pelos ritmos regionais no Brasil, principalmente no público jovem, essa galera que vai aos festivais, que é muito do que a gente quer atingir. E esse interesse abraça também a música instrumental. Se for ver, não é algo novo. Há mais de 30 anos, o Renato Borghetti abriu esse caminho sendo o primeiro brasileiro a ganhar um disco de ouro com um disco instrumental (Gaita Ponto, 1984) – destaca Cristiano Klein, percussionista.
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Com datas agendadas para shows em Estados como Pará, Minas Gerais e Paraná nos próximos meses, o Brasil é o principal alvo da banda que começou a ganhar o mundo pela América Latina, onde algumas apresentações já reuniram mais de 10 mil pessoas. Tudo para ajudar a construir uma nova imagem do que se produz no Sul, mais universal e menos bairrista.
– A missão da Yangos é levar a música do Sul a lugares onde as pessoas ainda não a conhecem e desfazer o estereótipo que ainda persiste em torno do que é a música brasileira, que só considera aquilo que é tropical e acha que no Sul só temos o homem de bota e bombacha e a mulher vestida de prenda. Como gaúchos, é uma irresponsabilidade deixarmos que isso aconteça – finaliza o tecladista.
Programe-se
O quê: show de lançamento da turnê e do álbum Brasil Sim Senhor, da Yangos
Quando: hoje, às 20h
Onde: Teatro do Sesc (Rua Moreira Cesar, 2.462)
Quanto: entrada gratuita (retirada no local, em horário comercial).