A cerração e a chuva deste sábado não foram oficialmente convidadas, mas compareceram e acabaram concedendo uma cara especialmente caxiense ao Festival Brasileiro de Música de Rua. Mas se o clima instável fazia todo mundo ter certeza de que, sim, estávamos em Caxias do Sul; os sons que habitavam a estrutura montada na UCS fizeram as centenas de pessoas presentes experimentarem uma viagem por diferentes e longínquas paisagens do Brasil e da América Latina.
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Foi o que aconteceu, por exemplo, durante o show do grupo paraibano Avuô. O som dos caras transportou todo mundo para o calor da caatinga com a presença do pífano, espécie de flauta que está intrínseca ao folclore nordestino. O show começou às 17h30min, quando a chuva já caía forte em Caxias, mas o público chegou bem pertinho do palco e abandonou as cadeiras para dançar (e se esquentar).
Outra estética sonora brasileira um pouco mais familiar aos sulistas foi apresentada no show do grupo Yangos, que começou às 16h. Amparados na indicação ao Grammy Latino em 2017 (feito inédito por aqui), os caras aproveitaram para mostrar "em casa" as misturas platinas que constituem seu som instrumental. Além da explosão de energia já tradicional do quarteto ao vivo — com sua mistura de milongas, chacareras, chamamés e afins — o show no Festival Brasileiro de Música de Rua foi também especial porque contou com uma música do próximo disco do grupo, Brasil, Sim Senhor (viabilizado pelo edital Natura Musical). Pelo que deu para perceber, o trabalho promete mesclar sonoridades bem brasileiras, já que o show teve até mesmo um momento dos músicos largando seus tradicionais instrumentos para empunhar objetos de origem africana como o xequerê e agogô.
Rafael Scopel, acordeonista da Yangos, lembrou da importância do festival na trajetória do grupo. Esta foi a terceira participação deles na iniciativa, veteranice que proporcionou até regalia para escolher o horário em que se apresentariam neste sábado.
— Escolhemos ficar antes do Vitor Ramil, até para ter a oportunidade de mostrar nosso som a ele. Vi que ele estava lá do outro lado olhando — contou o músico, referindo-se ao segundo palco localizado na outra extremidade do palco no qual a Yangos se apresentava.
Os dois palcos do festival mantinham a programação quente, ou seja, quando um show terminava, o outro já estava começando. A cerração já tomava conta da UCS quando Vitor Ramil, a atração mais aguardada do sábado, subiu ao palco. O músico brincou:
— Essa fumaça aí é efeito do palco, é da cidade ou está vindo de vocês?
Ramil fez um show intimista de voz e violão para um público concentrado e participativo. Rolou sucessos como Ramilonga e Estrela, Estrela, além de canções mais novas como Labirinto (parceria dele com Zeca Baleiro), do disco mais recente, Campos Neutrais. A clássica Joquim — versão inspirada de Ramil para Joey, de Bob Dylan — fechou a apresentação antes da noite chegar, já que o músico precisava voltar a Porto Alegre para mais uma apresentação do show Casa Ramil, que faz ao lado dos demais talentos musicais de sua família.
Além dos shows já citados, o sábado teve ainda shows da mexicana Laura Murcia, do paraense Lucas Estrela e dos caxienses Vic Limberger, Magabarat e da Cuscobayo, essa fechando a noite. Neste domingo, a programação do festival começa às 15h, na UCS. Entrada é franca.
Público compareceu e não foi embora com a chuva
A diversidade de atrações e linguagens musicais ficou ainda mais visível nesta 7ª edição do Festival Brasileiro de Música de Rua, que contou com o muito bem-vindo suporte do edital Natura Musical. Mistura que é aplaudida e procurada pelo público. Caso do casal Julie Maciel, 34 anos, e Vitor Hugo Rebello, 39, que veio de Porto Alegre especialmente para conferir a festa. Eles trouxeram junto o pequeno Manuel, de apenas sete meses.
— É um baita incentivo para a cultura, poder conhecer artistas de outras partes do Brasil e até de fora — disse Julie, que é caxiense, mas escolheu este fim de semana para visitar a cidade natal justamente por causa da programação do festival.
Antes do clima ficar ruim, parte do público ocupou a grama ao redor do estacionamento para curtir os shows. Depois que a chuva e o vento apareceram, no entanto, os cobertores usados para sentar ganharam outra função. Paula Bender, 33, foi uma das que compartilhou a peça com os amigos para se abrigar do frio e das incômodas gotas de chuva que insistiam em respingar.
— Só me arrependi de não ter trazido um cobertor maior — brincou ela.
Veja a programação do festival para este domingo, na UCS, com entrada franca:
15h: Araucana
15h30min: Hique Gomez (RS)
16h10min: Melanie Lusraschi (Uruguai)
17h: Banda do Cristóvão
17h20min: Baque dos Bugres (Caxias do Sul)
17h40min: Catavento (Caxias do Sul)
18h20min: Otto