Quando tinha seus 14 ou 15 anos, Cesar Cony entrou pela primeira vez no ateliê de um joalheiro, em Porto Alegre. Ao ver o fogo fundindo a prata, encantou-se e decidiu: era aquilo que queria fazer. Desde então, já se passaram quase quatro décadas de trabalho com joalheria autoral. E como a joalheria flerta com a arte, veio aos poucos outro sonho:
— Eu queria fazer escultura.
Foi ao deixar a Capital e se mudar para Antônio Prado, nove anos atrás, que Cony encontrou o que faltava. Ao travar contato com a cultura deixada pelos imigrantes italianos, vislumbrou em antigas peças muitas vezes esquecidas a matéria-prima para a sua arte. Unindo fragmentos de objetos coletados no interior do município a prata, ouro e minerais como quartzo, ametista e citrino, criou o que chamou de joias-esculturas. As 10 peças resultantes podem ser conferidas, a partir desta terça-feira, na exposição Joias da Imigração, no Campus 8 da UCS, em Caxias do Sul.
— Isso me abriu todo um universo — conta o joalheiro-escultor, recém-saído de uma imersão de 90 dias na confecção das peças.
O resultado surpreende. Quem pensaria, por exemplo, que um fragmento de grade de fogão a lenha, uma dobradiça antiga, um nó de pinho ou mesmo pedaços de basalto se tornariam preciosidades como as que saíram das mãos de Cony? Satisfeito com esse diálogo entre a escultura e a joalheria, ele projeta novas peças no futuro, e conta: várias pessoas que sabem do seu trabalho começaram a separar itens antigos para ele.
A mostra Joias da Imigração foi viabilizada graças à aprovação do projeto no edital Pracultura, de Antônio Prado, semelhante ao Financiarte caxiense. Além das esculturas, a exposição inclui textos em português e talian (tradução da professora Maria Inês Bernardi Chillanti) sobre cada peça, e um vídeo sobre o processo de produção, feito por Bruno Varela.
Caxias do Sul é a primeira cidade a receber a exposição, que fica no Campus 8 até 2 de abril. Depois, de 9 a 11 de abril, ela poderá ser conferida no Espaço Cultura, em Antônio Prado.
Professor
Desde 2016, Cony ministra na Universidade de Caxias do Sul (UCS) um curso de extensão em Joalheria Autoral, que chega em abril à sétima edição. Ele também manteve, por 15 anos, uma escola de joalheria, em Porto Alegre.
Agende-se
:: O quê: exposição Joias da Imigração, de Cesar Cony.
:: Quando: abertura nesta terça-feira, às 19h30min; visitação até 2 de abril, de segunda a sexta, das 9h às 22h.
:: Onde: na Galeria de Arte do Campus 8 da UCS (Avenida Frederico Segalla, 2.999, bairro Samuara, RS-122, km 69), em Caxias do Sul.
:: Quanto: entrada franca.
Leia também:
Complexo Fabbrica, em Caxias do Sul, sediará projeto de arte acessível
Marcos Kirst: e a poesia era vedete
Festival movimenta comunidade do Euzébio Beltrão de Queiróz, em Caxias
"A receita infalível para criar um imbecil é mimá-lo", diz Leandro Karnal em passagem por Garibaldi
Próspera e (ainda) atrativa: relembre a passagem de caxienses pelo Balneário de Camboriú, em Santa Catarina
