Intersecção é uma operação por meio da qual se forma o conjunto de todos os elementos que pertencem simultaneamente a dois ou mais conjuntos. Confuso? Bem, a banda a caxiense Araucana facilita a compreensão do conceito com o disco de estreia Espirais em Aquarela, disponível nas plataformas de streaming (Spotify, iTunes, Deezer e Youtube) a partir desta segunda. Musicalmente falando, a intersecção da banda é um caminho agregador entre distintas vertentes, unindo por exemplo pop rock, nativismo e groove numa mesma sintonia. Não à toa, a tal intersecção consta já na primeira frase do disco, entoada pelo timbre doce da vocalista Nina Fioreze.
A Araucana começou como um projeto individual do músico Maurício Kehrwald – radicado atualmente em Buenos Aires –, violonista e responsável pelas belas letras do disco. A partir do encontro dele com o músico e produtor Carlos Balbinot, a ideia foi ganhando o formato de um projeto coletivo, moldando-se no ritmo dos movimentos de cada uma das partes. Espirais em Aquarela foi construído em camadas e cheio de influências externas.
– Todos nós temos outros projetos e gravamos nossas participações de forma independente. Foi um processo totalmente artístico, com liberdade para fazer o que quiser, conduzido de uma forma bem natural. Cada um foi somando e abrindo as portas para novas referências – comenta Balbinot, ponto em comum entre todos os integrantes, já que o álbum foi gravado ao longo de 2017 no estúdio que ele comanda, Noise Produtora de Áudio. É ele também quem assina as guitarras e a produção do disco.
O acordeom de Rafael De Boni ajuda a semear o solo do disco com regadas milongueiras e reforça a versatilidade do músico que vai da canção regionalista (tem carreira consolidada ao lado do violeiro Valdir Verona) ao eletrônico (tocou no último trabalho do CCOMA). A competente cozinha do grupo não fica atrás, propõe a pegada do baixista Lucas Chini (que também toca com Rafa Schuler no projeto AZZY Quarteto Pop-Jazz) e a cadência do baterista Mateus Mussatto (também integrante da roqueira Mindgarden). Toda essa mistura foi batizada pela banda com o sugestivo nome de “milonga desconstrutivista”.
As composições visuais de Maurício Kehrwald também ajudam a revelar o imaginário de cenários que se encontram. O português e o espanhol se unem para derrubar possíveis fronteiras geográficas. Soy Humano, Soy Dios sugere muito bem essa bem-vinda convergência “vivo dividido em duas partes que opostas complementam uma à outra e o que sou”.
– Esse trabalho foi muito colaborativo, é uma fusão de pessoas de mundos diferentes dentro de um mesmo trabalho – conceitua Balbinot.
O grupo subiu ao palco junto pela primeira vez no dia 21 de fevereiro. A Araucana também está escalada para abrir a programação musical do último dia do Festival Brasileiro de Música de Rua (25 de março, na UCS), importante aval para um grupo em início de trajetória.
:: Disco: o primeiro trabalho da Araucana contou com participações dos músicos Rafael Froner (co-autor de Patria, Pampa Y Libertad) e Joce Cristóvão (bandolim em Espirais em Aquarela) e do cantor Julián Marquez (em Luz Del Fuego). A arte do disco é de Eduardo Ribeiro e a mixagem e masterização são assinadas por Fabrício Zanco.
Ouça uma das músicas do disco abaixo: