— É muito gratificante, não sei explicar com palavras como é. Quando eles abraçam, é tão forte que sinto o coraçãozinho deles pulando.
Rubens Rodrigues enche-se de emoção quando fala da função que desempenha sempre que o Natal se aproxima. Papai Noel do Shopping San Pelegrino desde 2010, o aposentado de 65 anos passa os dias atendendo ao público que se aproxima do simpático senhor de roupa vermelha e barba branca para lhe fazer pedidos, como manda a tradição. As crianças, claro, são maioria e, conforme Rodrigues, as encomendas de brinquedos eletrônicos tornaram-se cada vez mais frequentes nos últimos cinco anos. Itens como Xbox, videogames, celulares e tablets lideram a lista de desejos.
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Como, por questões financeiras, nem todos os pais conseguem atender aos pedidos, Rodrigues adotou a seguinte estratégia: pede licença aos pequenos para uma conversa reservada com o adulto que acompanha e, caso este confirme que não poderá presentear o filho com o artigo desejado, diz à criança que a fábrica do Papai Noel não trabalha com brinquedos eletrônicos e, gentilmente, solicita que escolha outro:
– Eu não prometo o que os pais não poderão cumprir. Não gosto de mentir.
Entre as meninas, além de tablets, são comuns as bonecas, como Monster High e a casa da Barbie. Há ainda os que pedem instrumentos musicais, como flauta, guitarra, violão e gaita. Estes enchem o Bom Velhinho de orgulho.
Jogo de cintura
No caso do Paulo Stelari Filho, 66 anos, que atende no Shopping Iguatemi Caxias, as queridinhas deste Natal são as bonecas Baby Alive e LOL. Na lista também aparecem itens como skate, carrinho de controle remoto e tablet. Há ainda os que pedem mantimentos, roupas e material escolar. Celular quase não pedem, diz ele.
Entre os itens “não materiais”, já houve pedido para tirar o pai da prisão e também para que o Bom Velhinho trouxesse um emprego para os pais.
– Sem dúvida comove o Papai Noel, mas tem que ter jogo de cintura para contornar a situação.
No Natal Luz
A Parada de Natal é realizada nos finais de semana às 16h; o Grande Desfile de Natal ocorre domingo, às 21h30min. Ingressos à venda no site natalluz.superingresso.com.br.
Desejos "da moda"
Anfitrião do maior Natal do Brasil, Julio César Rodrigues, 62 anos, deixa os netos em Porto Alegre e faz de Gramado sua residência durante três meses por ano, durante as celebrações do Natal Luz. Na Vila de Natal, instalada na Praça das Etnias, recebe os mais diversos pedidos de crianças e adultos de todas as partes do Brasil que visitam a cidade da Região das Hortênsias.
Os desejos mais frequentes são "os da moda", conta Rodrigues. Videogame para os meninos, bonecas para as meninas. A queridinha responde por Baby Alive, que fala, come papinha e precisa trocar fraldas.
– Também pedem celular, inclusive as crianças mais novinhas. As maiorzinhas me surpreendem e pedem paz e amor. Outros dizem que já têm tudo o que querem, então pedem que nenhuma criança passe fome no mundo. O que mais me surpreendeu foi um menino de dois aninhos que sentou no meu colo, conversei com ele e, quando perguntei qual presente ele queria, disse que queria o pai dele de volta. Pensei que o pai tinha abandonado, e o avô disse que ele tinha perdido o pai fazia dois meses, em um acidente. Respirei fundo para poder dar uma resposta a ele, mas não foi fácil.
De bonecas a namorado
Noel do Prataviera Shopping, Ubirajar Alison Dumcke, 69, tem em sua lista dinossauro, Batman e carrinhos para os meninos e, para as meninas, bonecas cujos nomes ele não arrisca pronunciar.
– Não sei nem o nome, porque dizem tudo em inglês. Aí a gente dá uma piscadinha pro papai e diz que vai levar o presente, mas tem que se comportar – ensina.
Mas não são apenas os pequenos que fazem pedidos. Os adultos também acorrem ao bom Velhinho em busca da realização de seus desejos:
– Os adultos sempre pedem namorado. Daí digo que namorado não se ganha, a gente conquista. Também pedem presente exagerado, um carro. Tem muita gente pedindo emprego, então digo que tem que correr atrás. Sempre peço para as pessoas, para os adultos em geral, que não deviam pedir muito presente. Deviam se fazer presentes onde tem muita ausência, com desconhecidos, um drogado...
E ele prossegue:
– Certa vez, um rapazinho de uns quatro, cinco anos, disse: "Papai Noel, eu gostaria que tu nunca morresse, porque eu sei que o senhor gosta muito da natureza e eu também gostaria de fazer parte disso". Minha alma fica preenchida.