A história da troca de casais mais famosa da Serra já teve duas dezenas de edições em livro, subiu aos palcos como peça de teatro, foi ao Oscar e, no ano que vem, chega também aos palcos numa versão operística. Baseada no romance publicado em 1985 pelo escritor José Clemente Pozenato, a ópera O Quatrilho está sendo produzida pela Bell'Anima Produções Artísticas, de São João do Polêsine, cidade da chamada Quarta Colônia de Imigração Italiana, próxima a Santa Maria.
A estreia está prevista para agosto de 2018, com um circuito regional por sete cidades gaúchas, e em 2019 será levada para uma turnê por outras oito cidades de cinco Estados brasileiros — Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
— Ainda estamos decidindo se a estreia será em Caxias do Sul ou Porto Alegre — diz Cláudio Carrara, da Bell'Anima, produtor do espetáculo em parceria com a Branco Produções.
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Amores no plural
Os contatos para a adaptação, conta Pozenato, começaram há cerca de dois anos, por meio de uma professora que estava fazendo o doutorado sobre a transposição do romance para o cinema. Durante as entrevistas com o escritor radicado em Caxias do Sul, ela comentou que trabalhava na Fundação Antonio Meneghetti, também de Polêsine, cujo fundador era fã de O Quatrilho, e que conhecia um produtor que tinha o sonho de adaptá-lo.
Após as primeiras conversas com Carraro, Pozenato ofereceu-se para fazer, ele mesmo, o libreto (texto da ópera), escrito em uma semana e logo aprovado pelo maestro, Antônio Borges-Cunha, também diretor artístico da Orquestra de Câmara Theatro São Pedro, de Porto Alegre.
— Agora sou libretista — brinca o escritor.
Apesar da rapidez com que fez a adaptação, ele salienta que um romance e uma ópera utilizam linguagens bem diferentes:
— Quando se escreve um romance, se está preocupado com o psicológico, com os conflitos interiores dos personagens. No teatro, o que importa é o externo, o drama público dos personagens. No cinema, há de novo uma mudança de perspectiva, ainda privilegiando mais o externo, mas mostrando um pouco do interno. Na ópera, a trama é a penas o elemento de sustentação para trazer à tona os momentos de emoção, para quem está no palco cantar sua alegria, raiva, decepção.
Assim, os momentos escolhidos para compor os dois atos da ópera foram os de maior emoção. Os quatro cantores que representarão os personagens principais já estão definidos: as sopranos Carla Maffioletti e Carmem Monarcha, que já foram solistas do violonista holandês André Rieu, interpretarão respectivamente Teresa e Pierina; o tenor Flávio Leite será Ângelo, e o barítono Daniel Germano dará vida a Mássimo. Estarão em cena, ainda, outros três personagens secundários — tia Gema e os compadres Cósimo e Rocco. A direção cênica será de Luís Artur Nunes, e o compositor é Vagner Cunha.
Carrara explica que se está na etapa da pré-produção, com o desenho da música e o planejamento do cenário, além da captação de recursos. O projeto tem apoio da Lei Rouanet, e um dos patrocinadores será a Calçados Beira-Rio. Os outros patrocínios ainda estão sendo captados.
Os atos
No primeiro ato, durante um filó na casa de Teresa e Ângelo, firma-se a sociedade entre eles e o casal Mássimo e Pierina. No segundo, ocorre o desentendimento, e a famosa troca de casais. No epílogo, todos se reencontram, um casal cantando o amor, e o outro, o respeito e a consideração que resultam do dinheiro.
Novos livros em gestação
A ópera não é a única novidade de José Clemente Pozenato para 2018. Em janeiro, ele pretende se dedicar à escrita de um novo romance policial — o quinto com o delegado Pasúbio como protagonista. E tem mais.
De uma conversa com o cineasta Luiz Carlos Barreto, em agosto, durante o Festival de Cinema de Gramado, Pozenato saiu com dois projetos. Um deles, já anunciado, é a adaptação cinematográfica de A Cocanha, segundo livro da trilogia iniciada com O Quatrilho. O outro é uma espécie de O Quatrilho 2, ou seja, uma nova história de troca de casais, num ambiente mais contemporâneo, de vinícolas, que deverá render livro e filme.
Estes dois projetos não têm data ainda, estão "em embrião", mas já movimentam a imaginação do escritor, que acabou há pouco de escrever o roteiro para um novo espetáculo do grupo Miseri Coloni, o mesmo que encenou O Quatrilho no teatro.
— Será um musical com canções de personagens míticos da cultura italiana, como o Sanguanel — revela.