No sábado passado, fui assistir a um espetáculo de canto coral, no teatro do SESC. Espetáculo gratuito, excelente. Fiquei pensando que ali, além de músicos e cantores dedicados, também tinha uma equipe imensa envolvida com a produção e a execução do concerto, que foi realmente muito bonito. Fiquei pensando que precisaram alugar o teatro e o equipamento e pagar o pessoal da técnica para operar a luz e o som. Vi gente trabalhando ali de graça, para dar aquele apoio nos bastidores e na bilheteria. Gente competente, que eu conheço desse mundão criativo da arte, e que vive, respira e trabalha aqui nesta cidade. Fiquei pensando na estrutura do espetáculo e quantos profissionais estavam ali envolvidos para que eu, meus amigos e mais um monte de gente - porque sim, o teatro estava lotado - pudéssemos assistir a um espetáculo de qualidade, gratuitamente, num sábado à noite. Caxias tem esses oásis. Depois, fiquei pensando que bem antes de tudo estar pronto ali, deve ter havido muito ensaio e disposição, e sei que durante o processo de feitura, de concepção do show, outros profissionais se envolveram, maquiadores, figurinistas, artistas, professores, músicos, oficineiros, muita disposição se empreende para fazer uma obra como aquela. E são jovens os cantores e as cantoras, e cantaram sobre a possibilidade de algum amor e alguma revolução nos nossos tempos, cantaram sobre como nós depositamos neles a esperança de um futuro melhor, sem dar-lhes garantia nenhuma de que este futuro será digno. Nosso presente, que nega cultura, congela fundos de educação, deforma as leis trabalhistas, não liga para a saúde, especialmente para a saúde da mulher, nosso presente, que finge uma democracia, que deturpa nossa imagem, que não paga professores, que fere nossos direitos, nosso presente, sobre o qual agora temos responsabilidade, e estamos construindo como base para esses jovens é na verdade um trampolim podre. Não coaduno. Não aplaudo. Faço outros movimentos. Não quero ser hipócrita. Fiquei pensando em quanto aprenderam durante o ano em que ensaiaram semanalmente as músicas, durante o tempo que discutiram sua interpretação, durante o tempo que pensaram sobre o valor do que estavam fazendo. E quanto aprendemos nós, o público, ao assistir. O espetáculo chama-se Contrapontos, e é do Coro Juvenil do Moinho da Estação. E este é apenas um, entre tantos frutos culturais, produzidos aqui em Caxias. Eu espero sinceramente que o show continue rolando, encontrando outros lugares para acontecer e outras pessoas para afetar. Para tanto, espero que haja apoio. O que você faz pela cultura da sua cidade? Como você apoia a arte produzida aqui?
Opinião
Natalia Borges Polesso: futuro sem presente
Nosso presente, sobre o qual agora temos responsabilidade, e estamos construindo como base para esses jovens é na verdade um trampolim podre
Natalia Borges Polesso
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