Construída em 1898, uma antiga residência de dois pavimentos no interior de Flores da Cunha será entregue restaurada à comunidade e em clima de festa, na próxima sexta-feira. Tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual em 1986, o Casarão dos Veronese é testemunha das dificuldades e soluções encontradas pelos primeiros imigrantes italianos assim que chegaram à região. A edificação, erguida pelo agricultor Felice Veronese 16 anos após sua chegada da Itália em busca de melhores oportunidades, abrigará um Centro Cultural com salas para exposição de longa e curta duração e espaços para atividades culturais, oficinas de gastronomia e educação patrimonial. Haverá ainda um bistrô, onde os visitantes poderão degustar produtos da região, como vinhos, espumantes, entre outros, além de um orquidário. A obra teve início no primeiro semestre de 2015.
Com projeto do arquiteto Edegar Bittencourt da Luz, também responsável pelo restauro do Mercado Público de Porto Alegre, atingido por um incêndio em 6 de julho de 2013, o Casarão dos Veronese é um exemplar único da cultura da imigração italiana no Sul do Brasil. Com paredes em pedra basalto, tipo mais abundante na região, traz acabamentos em tijolos nos fechamentos das aberturas, estas provavelmente em madeira de araucária, a mais disponível na época.
– Conservaram-se todos os remanescentes em pedra. As portas e janelas foram recuperadas e mantidas as características originais. Os tijolos que fazem os acabamentos nos beirais foram restaurados. A intervenção que mais chama atenção é o telhado. Como não havia mais telhas de barro como as originais, o telhamento foi feito com telhas metálicas diretamente sobre as paredes de pedra. Essa estrutura de vidro e metal parece que flutua, marcando o que é antigo e o que é novo – descreve a gestora cultural do projeto, Cristina Seibert Schneider.
Vindo da Itália em 1882, aos 27 anos, Felice casou-se em 1884 com Domenica Sella. Tiveram 10 filhos: Luiz, Henrique, Luiza, Albino, Elisa, Attilio, Rosina e Ernesto. Ida e Maria morreram ainda crianças. No distrito de Otávio Rocha, onde se estabeleceram, viviam da agricultura com o cultivo de videiras e da produção de vinhos e grapa, destilado obtido a partir do bagaço da uva. Foi no casarão onde Luiz deu início aos primeiros experimentos em Química, contrariando a vontade do pai, que o queria ajudando na roça.
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Com a morte de Felice, em 1919 aos 63 anos, e com os filhos mais velhos já morando em Caxias, Domenica vendeu o casarão no ano seguinte para Giovanni Baptista Schio, que adquiriu o imóvel para que o filho Libânio morasse com a mulher, Luísa Michelon.
– A nonna só tinha com ela os filhos mais novos, e a propriedade era muito grande. Então ela veio morar em Caxias com os filhos mais velhos. Além de marcar o início da nossa família por aqui, a chegada dele, e todo o esforço, o casarão guarda também o início da indústria que meu tio começou em Caxias, pois lá foram feitos os primeiros experimentos de Química, com pólvora e fogos de artifício usados nas festas – orgulha-se Paulo Ernesto Veronese, 62 anos, filho de Attilio e neto mais novo de Felice.
Domenica morreu em 1959 com 96 anos, e a empresa continua produzindo, há 106 anos, no Centro de Caxias do Sul.
A obra teve recursos provenientes da Lei Estadual de Incentivo à Cultura (LIC), com patrocínio das empresas Florense e Keko, além da prefeitura de Flores da Cunha, com investimento de aproximadamente R$ 3 milhões.
Agende-se
:: O quê: inauguração do Casarão dos Veronese.
:: Quando: sexta-feira, às 10h.
:: Onde: distrito de Otávio Rocha, em Flores da Cunha.
:: Quanto: entrada franca. Haverá almoço (menarosto) por adesão a R$ 60. É necessário confirmação pelo telefone 3279-3600, ramal 272.