Celso Bordignon não se considera artista — prefere dizer que lida com arte, em contraponto à banalização do termo. Rótulos à parte, o certo é que ao longo de quatro décadas mais de mil obras saíram das mãos desse frei, que, além de dirigir o Museu dos Capuchinhos (MusCap) e de restaurar livros e obras sacras, dedica-se ao desenho e à pintura. Uma parte desse acervo artístico poderá ser conferida, a partir desta quinta-feira, na Galeria de Artes do Campus 8 da UCS, em Caxias do Sul, na exposição Itinerarium Meum.
A mostra faz um recorte, por meio de 70 obras, da trajetória de Bordignon, desde que ele ingressou no curso de desenho do Atelier Livre de Porto Alegre, em 1980. O interesse pela área havia surgido ainda na adolescência, quando a irmã, estudante de belas-artes, deixava-o lidar com seus materiais de pintura, e foi crescendo no seminário, com a leitura de livros de arte. Ciente de que o fazer artístico precisa de sensibilidade e percepção, mas também de técnica, engenhosidade, conceito, pesquisa, ele seguiu sua formação artística em paralelo à teológica.
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— Quando me ordenei e fui enviado a São José do Norte, interrompi por um tempo os estudos e queimei quatro anos de desenho, só se salvaram os que eu havia dado a amigos. Mas não resisti e comecei a frequentar, uma vez por semana, a Escola de Belas-Artes de Rio Grande, além de dedicar minhas segundas-feiras, que eram de folga, ao desenho — relembra.
Nesse período, em meados dos anos 1980, fez muitos estudos sobre a crucificação, representando o Cristo não apenas na sua aparência tradicional, mas também careca, sem barba e com outras feições. Depois, conseguiu licença para estudar na Escola de Artes Visuais do Parque Laje, no Rio de Janeiro, e foi aí que desenvolveu, com uma artista-professora, um trabalho de busca de imagens do inconsciente. Nessa busca, descobriu as bestas, marca característica de sua obra e tema de três de suas exposições — Speculum Bestiarium, de 2008, Theatrum Bestiarum, de 2013 e ...Ad Bestias, de 2015.
Se as bestas representam um lado mais livre do fazer artístico de Frei Celso Bordignon, ele faz questão de manter também um lado clássico, com a pintura de ícones:
— Nos ícones, é preciso seguir o cânone, as normas, mantendo as proporções, o fundo dourado — explica, acrescentando que as tintas que sobram dali vão parar em quadros mais abstratos, que, depois, podem virar um novo bestiarium.
Bordignon também coleciona pedras e galhos nos quais vê imagens e fontes de inspiração. E esse, diz, é o papel do artista: desvelar o que a maioria das pessoas não vê.
— O artista empresta o olhar para o outro.
A mostra
As 70 obras da mostra incluem crucificações, Nossa Senhora e outros símbolos cristãos, croquis de carrancas, naturezas-mortas, autorretratos, bestas e diversas outras produções feitas ao longo dos anos, como as séries Chico (sobre São Francisco de Assis), Quero Voar (figura rodopiando que se transforma num pássaro), Saponíferas (a partir de manchas de sabão), etc.
Agende-se
O que: mostra Itinerarium Meum, de Frei Celso Bordignon, com organização e expografia de Mara Galvani.
Quando: abertura nesta quinta, às 19h40min*. Visitação de amanhã até 30 de outubro, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h30min — visitas de escolas e grupos devem ser agendadas pelo telefone (54) 3289-9000, com Rosiana Frizon.
Onde: na Galeria de Arte do Campus 8 da UCS (Avenida Frederico Segala, 3.099, Samuara), em Caxias do Sul.
Quanto: entrada franca.
* após a abertura haverá conversa com Bordignon, no Auditório Marelli.