No mês em que se completam 75 anos da declaração de guerra do Brasil à Alemanha nazista e à Itália fascista, uma leitura interessante é o livro-reportagem U-507 – O Submarino que Afundou o Brasil na Segunda Guerra Mundial, do jornalista Marcelo Monteiro, que acaba de ser relançado pela Besouro Box. A obra se debruça sobre um episódio pouco abordado do período: os ataques alemães a cinco navios brasileiros, de 15 a 17 de agosto de 1942, deixando 607 mortos e despertando um clamor popular que tirou o então presidente Getúlio Vargas da sua política de barganha entre os dois lados do conflito.
– Foi o nosso Pearl Harbor – compara Monteiro.
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Até aquele momento, Vargas se equilibrava entre elogios aos regimes totalitários – vide o famoso discurso a bordo do encouraçado Minas Gerais – e a tentativa de extrair vantagens de uma possível aliança com os Estados Unidos, que resultou em verbas para a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e o reaparelhamento das Forças Armadas. Havia uma disputa interna muito grande no governo sobre qual posição adotar caso se decidisse pelo fim da neutralidade. Em 1942, já era visível que a balança pendia para o lado dos Aliados, e submarinos alemães e italianos começaram a atacar sistematicamente embarcações brasileiras em rota para os EUA, diz Monteiro.
– De fevereiro a junho de 1942, foram 14 embarcações atacadas, com 130 mortos. O ataque do U-507, muito mais agressivo do que os anteriores e em águas brasileiras, pode ser considerado a gota d’água para o país entrar na guerra.
Embora o envio efetivo de tropas para o front só tenha ocorrido quase dois anos depois, em meados de 1944, logo na sequência dos primeiros torpedeamentos alemães e italianos residentes no Brasil começaram a ser perseguidos – quem mora na Serra gaúcha com certeza conhece a história da proibição de falar italiano e alemão, por exemplo.
– Nos dias seguintes aos afundamentos dos cinco navios, em todo o país, estabelecimentos comerciais, industriais e de serviços com sobrenomes alemães e italianos foram depredados, até que o governo decidisse declarar guerra aos dois países – relata o autor.
E na Primeira Guerra?
Em outubro, completam-se 100 anos da declaração brasileira de beligerância à Alemanha, ocorrida em 1917, três anos após o início da Primeira Guerra. Além de ser tardia, essa adesão do Brasil ao conflito guarda outra semelhança com o que aconteceu na Segunda Guerra: também se deve ao torpedeamento de um navio brasileiro por um submarino alemão.
Nesse caso, foi o afundamento do navio Macau, que teve ainda sequestrados seu comandante, Saturnino Furtado de Mendonça, e o taifeiro, Arlindo Dias dos Santos (que nunca mais foram vistos). A história é contada por Marcelo Monteiro em U-93 – A Entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial, também relançado agora, no box Submarinos.
Nas pesquisas para seus livros, o que mais impressionou Monteiro foi o desconhecimento sobre esses fatos:
– O Brasil esteve presente nas duas Grandes Guerras, os conflitos mais sangrentos de toda a história da humanidade, e nós, povo brasileiro, simplesmente não sabemos a razão disso.
Trecho de U-507
"No bairro carioca de Campo Grande, várias manifestações populares pedem vingança e exigem o fechamento dos estabelecimentos identificados com o Eixo. Já em Petrópolis, locais que mantêm nomes alemães têm suas placas trocadas por outras, com os nomes dos navios afundados.
Em outros Estados, repetem-se as manifestações violentas de dias anteriores. Na Bahia, assim como já ocorrera no Rio Grande do Sul, estabelecimentos comerciais pertencentes a imigrantes alemães, italianos e japoneses são destruídos pela massa popular, em meio a gritos de 'Viva Getúlio Vargas'. Temendo agressões, os imigrantes italianos de Salvador realizam o Manifesto dos Italianos Antifascistas do Brasil, demonstrando pleno apoio a sua nova pátria.
No Rio Grande do Sul, voltam a acontecer protestos, desta vez no interior. Em Caxias do Sul, centro de uma região de colonização italiana, milhares vão às ruas gritar contra as atrocidades nazistas."
OS LIVROS
O quê: box Submarinos, com os livros U-507 – O Submarino que Afundou o Brasil na Segunda Guerra Mundial (284págs.) e U-93 – A Entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial (320págs.), de Marcelo Monteiro.
Editora: Besouro Box.
Quanto: R$ 89, com frete, à venda no site www.besourobox.com.br.