Quando da estreia do espetáculo UM, em 2009, a Cia. Matheus Brusa colocou em prática a premissa de destacar, por meio de solos, o lado intérprete-criador dos seus bailarinos – uma forma de dialogar com a contemporaneidade, em que o individual é cada vez mais valorizado. Na época, entretanto, a apresentação era de certa forma segmentada, sem uma linha que unisse os diferentes solos. Já os cinco atos de AlgUMs, que a companhia estreia no final de semana, em Caxias do Sul, são diferentes:
– Os solos de AlgUMs têm uma comunicação em termos conceituais – explica o diretor do espetáculo e fundador da Cia., Matheus Brusa.
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Assim, embora cada solo mantenha a sua individualidade, o todo é bem mais do que a mera soma das partes. Segundo Brusa, o espetáculo tem duas diferentes esferas semânticas, que, por sua vez, também se comunicam.
Na primeira, a música eletrônica é o elo entre A-dentidade Mestiça, dança que reflete sobre o conceito de identidade como resultado da sociedade em que se vive (e uma espécie de espelho social), e Trance, que se inspira em danças circulares tribais e nas distorções de frequências corporais e sonoras.
Na segunda esfera, a comunicação é mais sutil: tem a ver com as temáticas, que, embora diferentes, giram todas em torno do organismo, do corpo. Em 89,143 Semanas, o foco são as transformações corporais do corpo feminino no período que vai da confirmação da gravidez até o primeiro ano de vida do bebê; em Sistema Colateral, o solo aborda o que acontece com o corpo quando este adoece; e em Osteócitos, o estudo foi sobre o ciclo de vida dos ossos, com sua dualidade de força e fragilidade.
– Além disso, tem um momento, no Osteócitos, em que a iluminação se volta aos outros solos, reconectando-os, como se fosse um resumo de memória. E na última cena aparecem de novo todos os outros trabalhos – diz Brusa.
Aí está uma outra diferença de AlgUMs em relação a UM: em vez de um único palco, serão cinco pequenos palcos (um para cada bailarino) dispostos em semicírculo. Quando cada solo termina, a iluminação segue para a coreografia seguinte, mas o intérprete continua ali, tornando-se ao mesmo tempo espectador e atração em suspenso.
O público, por sua vez, pode optar por ficar sentado no seu lugar o tempo todo ou deslocar-se no espaço do teatro, mudando sua cadeira de lugar, ficando em pé ou sentando no chão – o importante é ele encontrar sua própria maneira de ver o espetáculo.
Intérpretes e criadores
Cada um dos cinco bailarinos que participam de AlgUMs é não apenas intérprete, mas também criador de sua coreografia, desenvolvida a partir de pesquisas que partem de suas vivências e linguagens corporais. Daiane Kerber, por exemplo, inspirou-se na sua própria gestação para criar 89,143 Semanas.
Além de Daiane, o time de bailarinos que integram o espetáculo de dança contemporânea é formado por Natália Colombo, Isadora Martins, Diego Santos e Cibele Biasus Stédile.
Cada solo tem duração média de nove minutos. E assim como os temas dos solos são múltiplos, a trilha sonora – dirigida por Lázaro Nascimento – também é, obedecendo à estética de cada ato e transitando desde as batidas de psytrance até sons corporais e minimalistas.
AlgUMs foi viabilizado pelo Financiarte.
Agende-se
O quê: espetáculo AlgUMs, da Cia. Matheus Brusa.
Duração: 45min.
Quando: sábado e domingo, às 20h.
Onde: na Sala de Teatro Prof. Valentim Lazzarotto, junto ao Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312), em Caxias do Sul.
Quanto: ingressos a R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada).
Os solos
- A-dentidade Mestiça, com Natália Colombo.
- Trance, com Cibele Biasus Stédile.
- 89,143 Semanas, com Daiane Kerber.
- Sistema Colateral, com Isadora Martins.
- Osteócitos, com Diego Santos.
Dança contemporânea
Espetáculo "AlgUMs" estreia no final de semana, em Caxias do Sul
Apresentação da Cia. Matheus Brusa é composta de cinco solos
Maristela Scheuer Deves
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