A cena musical de Goiás há tempos tem ganhado reverberação para muito além das tradicionais duplas sertanejas. Festivais como o Vaca Amarela, o Goiânia Noise e o Bananada têm ajudado a moldar a cara do novo rock brasileiro e carregam o papel de impulsionar artistas independentes para o resto do país. Foi assim com os meninos do Boogarins, que visitaram Caxias em 2014, e foi assim com o Carne Doce, que se apresenta neste sábado, na Paralela.
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– Foram esses festivais que fomentaram essa cultura indie em Goiânia mesmo, é nesses festivais que as bandas goianas que estão começando primeiro aspiram tocar. O Bananada, no caso, já extrapolou essa característica de fomentador local, é um festival que cresceu tanto que hoje tem bem menos espaço para bandas goianas. Mas ainda carrega a importância de botar Goiânia no mapa, de roubar o protagonismo do eixo pra nós, de trazer os grandes nomes pro interior ainda discriminado – comenta a vocalista Salma Jô.
O Carne Doce foi germinado pelo casal Salma e Macloys Aquino (guitarra), que antes tinha outros projetos mas decidiu investir energias numa banda só. A formação – que tem ainda João Victor Santana (guitarra), Aderson Maia (baixo) e Ricardo Machado (bateria) – está fazendo turnê do segundo álbum. Princesa projetou a banda nacionalmente, encabeçando diversas listas de melhores do ano em 2016.
– Acho que tem uma autenticidade, que vem da mistura de influências diversas dos integrantes. Por outro lado, a gente tem muito mais afinidade hoje e isso se refletiu em arranjos mais maduros, em uma embalagem mais elaborada – justifica Salma.
A vocalista, aliás, é uma das forças mais intensas da banda. No palco, são dela as performances mais apaixonadas; e no som, é dela o timbre ora doce ora explosivo que casa perfeitamente com a cozinha minuciosa de baixo e guitarras. Nas letras, a visão feminista de Salma conduz reflexões acerca de temas como o aborto. A canção Artemísia, uma das mais contundentes do álbum, diz: “Não vai nascer/Porque eu não quero/Porque eu não quero e basta eu não querer”. Em Cetapensâno, o delicioso sotaque goiano é usado para mandar um papo reto aos machos folgados: “Cê tá bestâno pra cima de mim/Vai catá coquin”. Em Falo, a mensagem é ainda mais séria: “Meu sexo sempre é um impasse/É a razão pra me acusar/Que é por isso que eu sô histérica”.
– Meu intuito é emocionar e eu sinto que consigo fazer isso melhor quando me entrego mais, quando abro meus sentimentos, quando divido minha vivência, e daí, com a questão feminista cada vez mais em pauta, as letras acabaram falando mais sobre esse assunto no último disco – reflete a vocalista.
Essa explosão selvática feminina, entretanto, sempre foi elemento presente, principalmente nas performances ao vivo. Quem for à Paralela no sábado, poderá conferir de perto:
– É uma maravilha, uma libertação. No palco é onde sou a melhor Salma possível, onde mais gosto de mim com meus defeitos e qualidades. Todo show é um desafio. Você se sente poderoso ao mesmo tempo que vulnerável.
Programe-se
:: O que: show da banda Carne Docez
:: Quando: sábado, às 22h30min (início da apresenta-ção)
:: Onde: Paralela (Tronca, 3.483)
:: Quanto: antecipados estão esgotados. Na hora, R$ 20 até as 21h. Após, R$ 25
:: Atenção: entrada somente até a meia-noite e lotação de 200 pessoas