Quando o luto faz nascer, a perda vira fortuna, o poeta faz a palavra virar pulsão de poesia. Então o mergulho em memórias, as idas ao futuro imperioso que não consegue preterir a morte, se transformam numa Pequena Madrugada Antes da Meia-Noite. Significativamente, os versos do poema que dão nome ao livro que Marco de Menezes lança hoje, às 19h, na Do Arco da Velha, têm numeração descontínua. Alusão ao descontexto da vida, recorrência das inquietações de quem, depois de seis anos, lança nova obra.
– O melhor da poesia é que não se tem controle sobre ela – diz Marco.No descontrole do fluxo da escrita a morte emerge tema, entre alegorias metafísicas, citações de cenas e amigos do cotidiano, lembranças da infância e uma seleção de objetos do mundo que provocam o autor.
– Há uma preocupação com o envelhecimento, as doenças, o real do corpo, a finitude, o que está e o que se foi, a perda de afetos e de projetos – descreve ele, acrescendo:
– Nossa época está tão difícil que bate uma melancolia, uma depressão diante dessa guinada violenta que não se sabe para que, mas que não é boa. O sonho que esta é o que resta de infância e quando vem como imagem poética é bom. Tem muito de memória nesse material.
O fio da memória, a observação do tempo, são a matéria da poesia – boa parte dela escrita no fluxo Caxias-Porto Alegre-Caxias.
– Como expectador do mundo, tento ver seus objetos, seus enigmas, majestade e estranheza, essa capacidade da vida de surpreender para o bem e para o mal mantém a suspensão do desencanto. Por isso, ver as coisas ordinárias, o mistério daquilo que foge ao entendimento banal. É uma época que pede explicação. A poesia serve para manter as coisas indeterminadas, não unívocas – discorre.
No versejar sobre o mundo, olha para alguns pares. Leopoldo María Panero, Roberto Bolaño, Tomas Tranströmer, Wislawa Szymborska, Drummond, Robert Walser, T.S. Eliot, William Carlos Williams, Juliano Garcia Pessanha são leituras recorrentes. Desse universo deriva, também a prosa poética que começa a experimentar nesse quinto livro – sobre o qual também recai a expectativa pela conquista do Prêmio Açorianos de Literatura de 2010 com Fim das Coisas Velhas. O novo momento é o velho lapidar do texto:
– A prosa surge para liberar o poema do formato convencional, mas sem perder o ritmo, o canto do poema, que segue contando algo.Nessa reorganização dos sentidos de sua escrita, no interlúdio de horas fúnebres assumidas no preto da capa e do miolo do projeto gráfico de Camila Cornutti, na partilha texto final com Germano Weirich, que também é responsável pela revisão, junto com o escritor Iuri Müller, Marco de Menezes se resigna ao que ao fim e ao cabo, “o morto passa bem”.
– Os poemas me fazem.
O que: Lançamento e sessão de autógrafos do livro Pequena Madrugada Antes da Meia-Noite (Modelo de Nuvem/Belas-Letras), de Marco de Menezes
Quanto: Nesta sexta-feira, às 19h
Onde: Livraria Do Arco da Velha Quanto: R$ 29,90