Há dois Rafaéis em Rafael Iotti, e é por meio da poesia que eles se mostram. Carregadas de sentimentos, as palavras foram a forma que o rapaz de 23 anos encontrou para propagar sua interpretação do mundo. Os versos são a válvula de escape para a mente efervescente do estudante, que fez de pequenos pedaços de papel ilustrados sua arte. Meio e mensagem em um quarto de folha rabiscada com nanquim e colorida com aquarela.
– Poesia é quase um alento para os dias atuais – resume.
De sobrenome conhecido na Serra (ele é filho do cartunista Carlos Henrique Iotti), o jovem passou a se interessar pelos livros ainda na adolescência, época em que leu pela primeira vez A Ilha do Tesouro, um dos clássicos da literatura infanto-juvenil escrito por Robert Louis Stevenson em 1883. A partir daí, as palavras não saíram mais do dia a dia de Rafael, que anos mais tarde frequentaria a faculdade de Letras. Com o tempo, os poemas ganharam lugar em sua preferência e tornaram-se o eixo principal de sua produção.
Em 2013, a partir da necessidade de ganhar dinheiro, decidiu confeccionar blocos artesanais de páginas unidas por um barbante com poesias e ilustrações próprias. Trabalho que tem conquistado cada vez mais apreciadores, a julgar pela repercussão quando postas nas redes sociais. "Se tu quisesse eu enfeitaria minhas saudades e as deixaria aparentáveis pra tu poder vê-las e não te assustar de como eu sinto tua falta."
No ano seguinte, passou a enviar pelo correio cartões com um singelo "Tenha um dia bonito" a quem solicitasse via internet. A saudação, conta ele foi longe. Já chegou a Estados das regiões Norte e Nordeste do Brasil. Além disso, quando possível, Rafael distribui a mensagem para pedestres em avenidas movimentadas.
– Sempre tem muita gente distribuindo panfletos e propagandas e na maioria das vezes, quem passa nem nota. Então o objetivo é fazer com que as pessoas se "desautomatizem" com uma mensagem tão simples como "Tenha um dia bonito". Normalmente a surpresa é boa – conta.
O outro Rafael
Enquanto um Rafael sobrevive da "poesia fast food, mais bonita, mais acessível, mais comercial", como ele mesmo classifica, o outro se expressa através do estranhamento. E quer mesmo causar um certo desconforto em quem o lê.
– Tem um viés depressivo, irônico, temas escatológicos. Gosto e me identifico mais com esse Rafael – revela o jovem, que também está escrevendo um romance e cita Hilda Hilst e Samuel Beckett entre os nomes que admira.
Conforme Rafael, a inspiração surge a qualquer momento, "como um espanto", embora para ele a inspiração represente apenas 50% do trabalho. A outra metade é estudo. De literatura, de poesia, de linguística.
– Sempre saio com alguma coisa em que possa rabiscar, uma caneta, um bloco. E um Rivotril – brinca.
Atualmente, Rafael mantém duas páginas no Facebook, Dos Diálogos e Tirinhas Toscas, além de um perfil pessoal, nos quais publica os textos que produz.
– Literatura não é só livro – acredita, citando o músico Bob Dylan, ganhador do Nobel de Literatura deste ano sem ter escrito sequer um único livro.