Diferentemente dos últimos anos, o burburinho em torno do Mississippi Delta Blues Festival de 2016 começou tímido. Quando as atrações começaram a ser divulgadas, há meses, somente aqueles que curtem o estilo eram vistos especulando quais seriam os shows imperdíveis. A crise econômica pareceu ter deixado o público e a produção incertos sobre o sucesso da 9ª edição. Mas se essa dúvida pairou mesmo por aí, ela deixou de existir ainda na quinta, primeiro dia de apresentações. Durante os três dias, o MDBF transformou a Estação Férrea em uma celebração musical, reunindo grande público e sendo palco de shows memoráveis. As novidades estruturais – incluindo trocas de lugares de palcos – e as atrações inéditas, gringas e brazucas, também mostraram que reinvenção foi palavra de ordem.
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Quinta, sexta e sábado, o público conferiu mais de 80 apresentações e pode conhecer e se empolgar com shows cheios de performances e suingue. Quem ainda não tinha pisado nos palcos do MDBF, como o americano James "Boogaloo" Bolden, fez bonito, e quem já virou queridinho dos frequentadores, como o onipresente septuagenário Bob Stroger, não decepcionou. Para aqueles que foram para a Estação Férrea para não ficar de fora da festa, mesmo não entendendo nada dos solos de 12 compassos, característica principal da estrutura musical do blues, o MDBF também foi um baita programa. Enquanto os shows rolavam nos sete palcos, os mais ousados puderam fazer tatuagens, comprar artigos de decoração e ainda dar um trato no visual cortando barba, cabelo e bigode na hora.
Chamado de palco principal, o Bottle Tree Stage foi o mais movimentado nos três dias. Foi o espaço de estreia dos principais nomes internacionais do line up e o lugar para conferir apresentações pra lá de empolgantes, como a da banda Baia Toca Raul, na quinta, que interpretou clássicos do maior roqueiro brasileiro. Mas o destaque desta edição foi mesmo o Magnolia Stage, o das vozes femininas. No primeiro dia, a carioca Luiza Casé encantou o público cantando Amy Winehouse. Mais tarde, a britânica Bex Marshall, que já havia tocado na edição de 2014, mostrou por que foi escolhida para voltar: a estilosa guitarrista, cantora e compositora não deixou ninguém parado. Os outros dois dias ainda trouxeram os irretocáveis shows de Orianna Anderson (o que foi aquela participação da harmonicista Xime Monzon?) e do trio Indiana Nomma, Barbara Mendes e Alma Thomas, que emocionaram do início ao fim. Para ouvir essas três vozes, cada uma no seu estilo, uma hora foi pouco. E o Magnolia ainda reservou uma boa surpresa para o final, sábado, com a estreante Annika Chambers. A texana de vozeirão contagiante, acompanhada do inconfundível guitarrista Igor Prado, prendeu a atenção de um grande público até mesmo com suas canções autorais.
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Foram três dias de muita música, de surpresas e de aplausos para um evento que se consagrou em Caxias e que faz jus à alcunha de maior festival de blues da América Latina. Nesta edição, os elogios ouvidos são reflexo do esforço da produção em inovar e do público em não deixar de prestigiar. Em 2016, até São Pedro pareceu ter participado da festa, já que poupou o público da já tradicional chuva. Para 2017, ano emblemático e que fecha o ciclo de uma década de MDBF, os participantes já criam expectativas.
Na madrugada de domingo, cansado e feliz, o idealizador do evento, Toyo Bagoso, sorriu e falou ao ser questionado sobre o próximo festival:
– Eu quero a 10ª edição.
Nós também, Toyo.
Para já colocar na agenda: a edição de 2017 vai ocorrer nos dias 23, 24 e 25 de novembro.