Depois de utilizar vários nomes do rock brasileiro para falar de sociologia e filosofia em projetos realizados entre 2014 e 2015, agora o músico e sociólogo Giovanni Mattiello, 35 anos, resolveu levar para as escolas a "maluquez" de um único compositor. Denominada O Que Ouvi de Raul, a proposta tem rodado as escolas de Garibaldi com dois intuitos principais: apresentar a obra de um dos principais nomes da música brasileira a uma geração que pode nunca ter ouvido falar dele, e discutir questões existenciais por meio de suas imortais canções. A iniciativa é custeada via Fundo Municipal da Cultura, da prefeitura de Garibaldi.
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- Para o Raul, ser maluco era criar consciência crítica. Talvez eu seja sociólogo por causa dele 0151 resumiu o apaixonado Mattielo, minutos antes de assumir o visual boina+óculos escuros+violão no palco improvisado da escola Escola Municipal de Ensino Fundamental Madre Felicidade, na última quinta-feira.
O roteiro da apresentação tem músicas icônicas do roqueiro - interpretadas por Mattiello ao lado do também garibaldense Misael Dutra - e muita conversa com a garotada sobre questões escondidas nas letras. Na plateia, mais de 100 alunos com idades entre 10 e 14 anos e a cabeça aberta a novas ideias. Logo de cara, o Raul de Garibaldi conta que conheceu as músicas do Raul baiano por causa de um tio. Na escola, é ele quem acaba assumindo esse papel de "influenciador".
- Acho que a escola não pode dar ao aluno somente o que ele quer em termos culturais, esse projeto é para mostrar que existem músicas que fazem pensar. Muitos adolescentes não conhecem Raul, mas depois me procuram para saber mais informações, para saber o nome de alguma música - conta Mattiello, que já viajou mais de 100 cidades fazendo palestras.
O repertório da apresentação tem canções como Caubói Fora da Lei, Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás, Trem das Sete, Aluga-se, Como Vovó Já Dizia, Maluco Beleza, Sociedade Alternativa, etc. Uma das relações mais interessantes que Mattiello propõe durante a aula musicada é entre a canção Meu Amigo Pedro e o Mito de Sísifo (personagem da mitologia grega que foi objeto de estudo do escritor Albert Camus). Mattiello ensina que Sísifo passou a eternidade carregando uma pesada pedra para cima de uma montanha, até esquecer o real motivo que o levou até ali.
- O Pedro também é alguém que carrega pedra o dia inteiro. Existem muitas pessoas que não sabem porque estão fazendo o que fazem, presas numa sociedade de consumo. Mas não vão pagar com dinheiro, e sim com o tempo de quem empurra uma pedra - explica.
A gurizada aprendeu ainda que solicitar o famoso "toca Raul" sempre que virem alguém com um violão é quase uma obrigação daqui para frente. A aula de "Raulseixismo" também proporcionou um exercício diferente: brincar de Deus e imaginar um novo mundo.
- Não joguem a responsabilidade, ela é nossa. A partir de hoje vamos começar a construir esse mundo que a gente quer. Vocês são a sociedade alternativa! - sentenciou o palestrante, antes dos versos de uma das músicas mais emblemáticas do roqueiro.
Repercussão - durante a palestra O que Ouvi de Raul, é normal que os professores sejam uma das parcelas mais animadas da plateia. Na escola Madre Felicidade, Tânia Morelatto, 43 anos, cantava todas as canções.
- Acho super valiosa essa conscientização através da música, o Raul era extremamente inteligente e algumas letras são ainda mais fortes hoje em dia - disse a professora de Matemática.
A empolgação do alunos crescia ao cantar refrões conhecidos, como de Maluco Beleza ou Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás. Mas o principal exercício da palestra não era vocal...
- Acho que ele (Raul) traz uma coisa assim de não seguir um padrão, muitas músicas fazem pensar de uma maneira simples - apontou a adolescente Daniela Bertele, 14, captando a mensagem da obra de Raul Seixas.
Educação
Projeto leva obra de Raul Seixas a estudantes de Garibaldi
Músico e sociólogo Giovanni Mattiello realiza palestras-show em escolas
Siliane Vieira
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