O verbete avesso sugere contrariedades, diferenças, antagonismos. Mas O Avesso Do Avesso Do Avesso Do Avesso, que Mara De Carli e Vivi Pasqual abrem nesta quarta-feira, na Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim, às 20h, é um tratado sobre pertinências e similaridades: do gesto do artista na construção de uma linguagem, da exploração ao extremo dessa potência artística, do zelo pelo processo de criação de cada obra.
São avessos que se encontram pela possibilidade de diálogos das diferenças na contemporaneidade. Assim, a sala expositiva , desenhos os multicoloridos de Vivi Pascoal fazem duo com as xilogravuras preto e branco de Mara De Carli. Barroquismo e minimalismo lado a lado. Contenção e distensão de formas que agenciam múltiplas possibilidades de leituras.
- Quando pensamos em fazer a exposição juntas, pensamos no que tínhamos para dizer. A diferença mesmo era o dizer - conta Mara.
A conversa artística, na verdade, cria espaços de silêncio, veredas contemplativas. Vivi tem uma compulsão pela produção. Mara é metódica, sistemática e, ok, obstinada pela precisão. Enquanto Vivi borra margens, expande e distorce figuras como na série em que retrata e relata os senegaleses caxienses, Mara produz uma série de xilos derivadas da mesma matriz de 1x10cm, que vão se desdobrando em imagens e novas imagens.
- Dois trabalhos fortes, de uma qualidade incrível - resume o curador Eduardo Veras.
Acolhidas pelo pensamento curatorial de Veras, Vivi e Mara descrevem o encontro artístico:
- Conviver como uma artista como ela é um privilégio. É tanto talento que é difícil mensurar- afirma Mara.
- É o casamento de um velho amor - simplifica, mas não ameniza, Vivi.
Vivi livre contadora de histórias visuais, Mara determinada em suas referência teóricas - Donald Judd com seu trânsito do minimal para o tridimensional, os desenhos dos azulejos de Alhambra - ambas organizam trânsitos, desdobramentos estéticos, deslizamentos de sentidos.
Descolam avessos para afirmar encontros também na produção de livros de artista: os de Mara batizados de Adágio, Pas de Bourrée I e II, são movimentos visuais manipuláveis derivados de passos de dança; os de Vivi sugerem histórias atadas mais à imaginação do que à possibilidade de abrir efetivamente a peça. Novas aproximações atravessadas pelas singularidades.
- Eu conto no que penso, Vivi conta no que faz - opina Mara.