José Clemente Pozenato, autor de O Quatrilho, é quase uma unanimidade das letras caxienses. Eduardo Dall'Alba, Marco de Menezes e Natalia Borges Polesso já levaram o Prêmio Açorianos de Literatura, e Marcos Fernando Kirst, o Açorianos de Criação Literária. Em comum, além do talento, esses (e vários outros) escritores hoje reconhecidos têm a passagem pelas listagens de premiados do Concurso Anual Literário de Caxias do Sul, promovido pela Biblioteca Municipal Dr. Demetrio Niederauer e que está em sua 50ª edição - as inscrições seguem até sexta-feira.
- Esse tipo de concurso pode alavancar muitos escritores e anunciar surpresas interessantes, pode trazer à tona escritores que não teriam a chance de chegar a uma editora com alcance maior, mas que, por meio do concurso, podem alçar voos mais longos - avalia Natalia, que integrou a lista de contos em 2008 e 2009 e de poesia em 2009 e 2014.
Leia as últimas notícias de Cultura e Tendências
Para Kirst, quatro vezes entre os classificados em contos e vencedor em obra literária em 2011, o Concurso Anual Literário é fundamental para quem pretende empreender uma carreira literária com seriedade.
- No concurso, você coloca seu trabalho para a avaliação de um júri, sob pseudônimo. É um salto além, e dá uma segurança, um endosso para a qualidade literária do trabalho - diz o jornalista e escritor.
Tal endosso também foi dado, em 1997, a Menezes, que estreou na literatura com graças ao prêmio conquistado na categoria obra literária com Horas Dragas. Para o poeta, esse aspecto é um dos mais importantes:
- Você passa anos escrevendo, mas não publicou nada; o primeiro livro dá uma autorreferência mais concreta - diz, lamentando que essa categoria voltada a livros inéditos tenha sido extinta (em 2013, ela foi substituída pelo Prêmio Vivita Cartier, para obras já publicadas).
Doutora em Teoria da Literatura e pós-doutora em Letras, Lisana Bertussi (premiada oito vezes, a primeira em 1970, em contos) considera enorme a importância do Concurso Anual Literário:
- É um estímulo para quem está começando a escrever e ainda não tem uma opinião abalizada. Muitas pessoas que passaram pelo concurso vão escrever ao longo de toda a vida por terem esse aval quanto ao valor estético do seu trabalho. Quando era professora, sempre incentivava meus alunos que escreviam a participarem.
Pozenato, talvez o mais conhecido escritor radicado em Caxias do Sul, também destaca a questão da localização e avaliação de novos talentos, e vai além:
- Esse concurso é importante por criar na cidade um ambiente de valorização literária. O resultado é que Caxias tem hoje um número de escritores bem superior a outras cidades do mesmo porte.
Ele sabe o que diz: no início dos anos 1980, teve duas crônicas, uma poesia e duas obras (Meridiano, 1982, e O Caso do Martelo, 1984) premiados.
- Participava sempre, até me convidarem para a comissão de avaliação - lembra.
Nem todo mundo, entretanto, vê os concursos com esses olhos. Embora tenha sido vencedor da categoria crônica na primeira edição do prêmio caxiense, em 1976, e premiado novamente em 2004, o escritor Delmino Gritti discorda do papel dos concursos como fomentadores de escritores.
- Muitas vezes um prêmio consolida a ideia de que um livro, um poema, só conta quando vem avaliado ou sancionado por um concurso. O prêmio para mim não teve nenhuma influência. O que realmente me marcou muito foram as leituras e releituras, principalmente dos clássicos.
O certo é que nesse quase meio século de história dezenas de nomes importantes da cena cultural local passaram pelo Concurso Anual Literário. Entre eles estão ainda Jayme Paviani, Juventino Dal Bó, Paulo Ribeiro, Valdir dos Santos, Loraine Slomp Giron, Tadiane Tronca, Rejane Romani Rech e Leandro Angonese, além do jornalista e escritor Jimmy Rodrigues, já falecido, que venceu em contos na primeira edição, em 1967, e em outras 10 ocasiões.
E se você escreve, seu nome também pode entrar para a lista. Como aconselha Natalia:
- Vão em frente. Mandem seus escritos! Vale a pena!
INSCREVA-SE
O que: 50º Concurso Anual Literário, para conjuntos de três contos, crônicas e poesias inéditos; há ainda a categoria obras literárias / Prêmio Vivita Cartier, para livros publicados no ano anterior
Quem: pessoas maiores de 16 anos residentes em Caxias (para os trabalhos inéditos) ou na região (Vivita Cartier)
Inscrições: até sexta-feira, dia 15, na Biblioteca Municipal (Rua Dr. Montaury, 1.333 )
Premiação: para contos, crônicas e poesias, publicação em antologia mais troféu, certificado e exemplares; para obra já publicada, troféu, certificado e prêmio em dinheiro no valor de 240 VRMs (cerca de R$ 7 mil)
Mais informações e regras de formatação dos trabalhos: no site https://www.caxias.rs.gov.br/cultura/texto.php?codigo=882, ou pelos telefones (54) 3214.5937 / 3214.6083