No fundo, todo mundo quer mandar no outro. Essa é uma das verdades da vida que Dona Margarida faz questão de ensinar a seus alunos logo no início da "aula" que, há quatro décadas, ministra nos palcos do país. Nesta quarta-feira, ela traz seus "ensinamentos" pela primeira vez a Caxias do Sul, em montagem da porto-alegrense Cia de Teatro Teatrofídico, que encena Apareceu a Margarida no Teatro Municipal Pedro Parenti, às 20h.
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O monólogo tragicômico é uma adaptação do texto de Roberto Athayde, dramaturgo que no início dos anos 1970, no período mais complicado da ditadura, ousou colocar em cena uma professora autoritária, que humilha seus alunos para mostrar quem manda ali. Na montagem original, a personagem era interpretada por Marília Pêra, e desde então ganhou dezenas de rostos em dezenas de países. Na versão que chega a Caxias, a megera é encarnada pelo ator Renato Del Campão, que há oito anos repete aos seus alunos: "Eu mando, vocês obedecem. Eu falo, vocês acreditam".
- A Dona Margarida é um símbolo, representa a opressão que todos sofriam na época. Mas ela não é datada: hoje não temos mais a ditadura militar, felizmente, apesar de ter quem quer que ela volte, mas vivemos outros tipos de ditadura, do consumo, nas relações - exemplifica o diretor Eduardo Kraemer.
Isso não significa, entretanto, uma peça pesada. Na hora e meia de duração do espetáculo (originalmente, eram duas horas e meia), a professora costuma arrancar muitas gargalhadas dos "alunos" da plateia com suas tiradas ácidas, absurdas e sem nenhum pudor. A vida, a morte e o sexo também pautam as reflexões da personagem, descrita pelo diretor como "alguém que chega a ser cômica de tão malvada".
Para Campão, que diz aprender algo a cada vez que encarna Dona Margarida, a personagem é universal, tanto que já ganhou montagens até mesmo na China. O ator destaca ainda que, embora conhecida principalmente pelas interpretações de Marília Pêra e Sandra Dani (a quem ele assistiu nos anos 1980, quando se iniciava no teatro), a peça originalmente seria estrelada por um homem, o ator Luís de Lima. Como este quebrou a perna, o papel passou a Leila Diniz, que morreu antes da estreia, e por fim a Marília.
Responsável pela adaptação do texto em conjunto com o diretor, Campão destaca ainda a importância e a atualidade da peça:
- É um exemplo do que pode acontecer se houver um retrocesso no Brasil. As pessoas querem mudança, mas não sabem o que fazer depois. Independentemente das posições políticas, é preciso uma transição, uma acomodação para que as se chegue a um resultado. Acima de tudo, é preciso que haja democracia.
E democracia, diz, é tudo que Dona Margarida não quer. Afinal, ela manda e seus alunos só obedecem.
AGENDE-SE
O que: espetáculo Apareceu a Margarida, com a Cia Teatral Teatrofídico, de Porto Alegre
Quando: nesta quarta, às 20h
Onde: no Teatro Municipal Pedro Parenti, na Casa da Cultura (Rua Dr. Montaury, 1.333), centro de Caxias do Sul
Quanto: R$ 5
Classificação: 16 anos
Teatro
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Maristela Scheuer Deves
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