O mundo de Teresa não tem cores. Rica, com mais de trinta anos, ela ainda sucumbe ao rígido controle da tia que a criou, e vive seus dias sem o menor entusiasmo. A paixão, o amor, ela só os experimentou uma vez, muitos anos antes, mas o homem que amava foi embora sem explicações. Os únicos momentos de escape são as aulas de pintura, mas mesmo ali as cores lhe são negadas: o velho pintor que ministra as aulas insiste que ela deve primeiro dominar o preto e o branco... Até que um dia, enquanto caminha pelas ruas de sua Madri natal, a protagonista de Uma Loja em Paris (Editora Essência, 256 páginas, R$ 34,90), do escritor espanhol Máxim Huerta, vê uma antiga tabuleta em um antiquário, e sua vida começa a mudar.
Atraída pela tabuleta, que pertencia a uma loja de tecidos parisiense, Teresa é invadida por sensações que remetem à dona da tal loja, Alice Humbert. Sem saber explicar o sentimento que a acomete, ela enfim cria forças para romper o marasmo de sua vida e partir para Paris em busca de uma vida mais emocionante - e da história de Alice.
Na capital francesa, ela compra o prédio agora abandonado que um dia abrigou a velha loja de tecidos. No porão, trancado há décadas, encontra fotos que só acrescentam novas peças ao quebra-cabeças que ela se dispôs a montar. A partir daí, o leitor passa a acompanhar duas histórias: a de Teresa, nos tempos atuais, e a da jovem Alice, uma moça pobre que acaba por se imiscuir no mundo da arte e das festas glamourosas dos loucos anos 1920, a eterna "belle époque" já retratada por autores como Hemingway.
Nesse ir e vir do tempo, vamos encontrar pintores, jovens que se submetem a qualquer coisa para escapar da miséria e se integrar à "jeunesse dorée", e também muita festa, animação, luxo e glamour. Acompanhamos Alice enquanto ela posa para retratistas e quando vai a festas nas quais encontra nomes como Modigliani e Coco Chanel, quando ela encontra o amor e quando ela se debate em relação à sua origem humilde. Nos intervalos, voltamos a Teresa, que vai ter a ajuda de um velho fotógrafo para descobrir mais sobre o objeto de sua obsessão.
Uma Loja em Paris tem, por assim dizer, dois finais, um para Alice, outro para Teresa. Não posso dizer que gostei de ambos, mas, no conjunto, a história é bem elaborada, com as revelações dos capítulos finais amarradinhas. Sem falar que o livro remete ao nosso imaginário, ao sonho parisiense que vive em muitos corações - afinal, quem não gostaria de morar em Paris?
Dica de livro
Maristela Deves: Um sonho parisiense
"Uma Loja em Paris", de Máxim Huerta, transporta o leitor para a Paris dos anos 1920
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