Imagine que, num belo dia, você começa a ter problemas para executar o seu trabalho e as tarefas mais simples do dia a dia. Por mais que se esforce, não consegue concatenar as ideias, e suas frases começam a sair desconexas. Ao mesmo tempo, tem a impressão (ou a certeza) de que todos o estão olhando de maneira diferente, talvez até mesmo rindo às suas costas. De repente, sem mais nem menos, você é acometido por convulsões, a ponto de ficar com os membros rígidos e espumar pela boca.
Arrepiante, não? Pois essas são apenas algumas das coisas assustadoras - e reais - que aconteceram com a jornalista Susannah Cahalan, e que ela relata no livro Insana (Belas-Letras, 300 páginas, R$ 39,90).
No começo do livro, Susannah - uma promissora repórter do New York Post, de apenas 24 anos - acorda em um quarto de hospital, amarrada na cama, sob vigilância e sem condições de falar ou se mover - e sem memória alguma do que aconteceu no mês em que ficou confinada ao hospital. Decidida a reconstituir aquele período perdido de sua vida, enquanto recupera suas forças ela vai coletando o depoimento de familiares e do namorado, as anotações e exames dos médicos e o que ela própria escreveu naquele período (na maior parte, frases sem sentido), além de muita pesquisa, para descobrir o que a afligiu.
Aos poucos, o leitor vai acompanhando a autora-personagem-paciente na sua descoberta de que sofre de uma doença rara e aterrorizante, da qual algumas pessoas jamais se recuperaram. A dificuldade de diagnóstico é uma das coisas que mais amedrontam - no início, um médico chegou a afirmar que os sintomas de Susannah apontavam para um problema de alcoolismo, apenas por ela dizer que eventualmente bebia uma taça de vinho, à noite.
Com suas pesquisas, e após passar por diversos diagnósticos desencontrados, a repórter vai descobrir inclusive que a doença autoimune que atacou seu cérebro pode ter acometido muitas pessoas que, no decorrer da história, foram "diagnosticadas" como possuídas pelo demônio, por falarem de forma confusa e alternarem momentos de catatonia com agressividade...
Decididamente, Insana ("Brain on Fire" no original em inglês) é uma leitura e tanto. Uma história real, mas de uma tensão tão completa que não deixa nada a dever aos melhores suspenses psicológicos.
Não ficção
Maristela Deves: Terror real em "Insana"
Livro relata o "mês de loucura" de jornalista norte-americana
Maristela Scheuer Deves
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