Prepara um mate, arruma um pelego de ovelha sobre um cepo e te aprochega. O convite vem de um historiador e tradicionalista que por 10 anos debruçou-se sobre livros, cartas, documentos para falar - com propriedade - sobre o gaúcho. O resultado está nas 573 páginas do livro A Terra dos Quatro Ventos, que será lançado nesta quinta-feira em Caxias, na Casa da Cultura, às 20h. Do escritor Juarez Nunes da Silva, natural de São Francisco de Paula e aquerenciado em Caxias, a obra é um compilado que reúne a história do gaúcho, a epopeia farrapa, a indumentária, os símbolos rio-grandenses e os costumes campeiros.
O debruçar-se sobre os escritos foi consequência da campereada que extrapolou fronteiras. Visitou terras uruguaias e argentinas. Sempre pilchado, despertou curiosidade na Espanha e na França. Nesta última, aliás, voltou com a origem da própria veste que usava: a bombacha.
- As tropas francesas incorporavam soldados da infantaria da Argélia, os zuavos, que usavam esse tipo de calça, para ajudar na Guerra da Crimeia. Aqui, esses uniformes eram vendidos em bolichos e caíram no gosto de argentinos e brasileiros - explica o autor.
Um dos capítulos do livro é dedicado a mais famosa e controversa guerra da história rio-grandense: a Farroupilha. Silva visitou museus e cemitérios de cidades gaúchas, analisou cartas escritas pelos próprios farroupilhas, como as do general Bento Gonçalves. Desconstruiu mitos de heróis farroupilhas aclamados, mas reafirmou o discurso que da peleia veio a força do gaúcho e também da mulher gaúcha: durante as guerras e revoluções, foram elas que sustentaram a economia no Estado cuidando das estâncias.
- A minissérie A Casa das Sete Mulheres, baseado na obra de Letícia Wierzchowski, desconstruiu a história gaúcha. Colocou Anita Garibaldi em trajes masculinos dançando chula, coisa que não aconteceu, homens cantando uma estrofe do hino rio-grandense quando a letra nem tinha sido criada. Também o flerte entre Bento Manoel e Caetana, esposa de Bento Gonçalves, nunca existiu - enfatiza.
Silva retrata um Garibaldi desprovido dos ideais farroupilhas - era um corsário estrangeiro pago para aprisionar navios cuja carga serviria à república. Pouco conviveu com os grandes líderes farroupilha. E afirma: a famosa Batalha dos Porongos, que resultou na morte dos lanceiros negros, não foi uma traição farrapa. Para contar a história destes nomes, visitou museus e cemitérios em Caçapava, Bagé, Rio Pardo, Piratini, Alegre, Pelotas e Laguna (SC).
- O historiador isento de paixão tem que mostrar o homem dentro do contexto histórico. Isso não tira a importância desse capítulo da história: os homens peleando e a mulher segurando a economia. É um marco da nossa formação. Isso nos tornou forte - admite.
O livro estará à venda a R$ 150.
Mas Bah!
Identidade do povo rio-grandense é retratada em obra que será lançada em Caxias
Livro de Juarez Nunes da Silva tem mais de 500 páginas
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