Quando os gaiteiros abrirem o fole das gaitas este final de semana, o som que se escutará na Serra será o compasso marcado do bugio. Depois de transitar por vários cenários sem lugar fixo, o festival que valoriza o único ritmo genuinamente gaúcho parece ter reencontrado sua identidade. Acolhido pelos palcos de um Centro de Tradições Gaúchas pelo segundo ano consecutivo, o Ronco do Bugio, em São Francisco de Paula, chega em sua 23ª edição reunindo intérpretes consagrados dos festivais gaúchos com nomes que despontam na música.
Das mais de 100 canções inscritas, 12 foram classificadas para a final que acontece de sexta a domingo.
- Na década de 90, o Rio Grande do Sul chegou a sediar quase 100 festivais. Muitos músicos se profissionalizaram e afastaram os novatos. Essa mescla entre novatos e veteranos em um mesmo palco é fundamental para a renovação de um festival - destaca o poeta e compositor Léo Ribeiro de Souza, um dos jurados.
A origem do gênero musical é incerta. São Francisco de Paula e São Francisco de Assis disputam a paternidade do ritmo bugio. O jogo de foles da gaita imita o ronco do animal que, dizem os antigos, antecipa os dias de chuva. A diferença entre o bugio e a vaneira é tênue e confunde os próprios músicos.
- Acredito que o festival poderia organizar uma oficina antes do período de inscrições para tratar só do ritmo. Muitos acham que por ser bugio as letras têm que falar do animal e não é isso. Mais da metade das canções inscritas eram sobre o bicho. A temática pode ser diversificada, sobre diversos assuntos gaúchos. Em outros casos, tivemos letras inscríveis, mas que não eram o ritmo bugio - complementa Léo.
Este ano, o festival instituiu o troféu Casamento da Doralice, que premiará a canção campeã. É uma homenagem àqueles que gravaram o primeiro bugio no Rio Grande do Sul: Os Irmão Bertussi. A canção que dá o nome do troféu faz parte do disco Coração Gaúcho, de 1955.
Mas é a composição do músico Leonardo, que ganhou o 1º Ronco do Bugio, aquela que mais retrata o que o festival é hoje: "Ainda bem que este ronco na Serra surgiu. O bugio não 'tá' morto, levanta bugio".
Tradição
Ronco do Bugio começa nesta sexta em São Francisco de Paula
Doze canções são apresentadas nos três dias do festival gaúcho
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