Ele nunca integrou uma invernada artística ou declamou versos em palcos de Centros de Tradições Gaúchas (CTGs). A única vez em que tentou laçar, acabou com o laço enroscado no pescoço. O conhecimento da lida campeira vem muito mais dos estudos do que da prática diária. Apesar disso, é hoje o líder de aproximadamente 1,3 milhão de tradicionalistas. Manoelito Carlos Savaris, 58 anos, eleito presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) para a gestão de 2014, é gaúcho por opção.
Não veio de uma família tradicionalista, mas o gosto pelos assuntos gauchescos o transformou num pesquisador da cultura e do folclore rio-grandenses - a biblioteca particular, na residência em Caxias do Sul, tem aproximadamente 1,4 mil livros.
Graduado em História, é autor de oito obras, duas delas de cunho tradicionalista. Manoelito Savaris é autor dos livros "Rio Grande do Sul: história e Identidade" e "Manual de Tradicionalismo Gaúcho", ambos publicados pelo MTG. Desde que se aposentou como tenente-coronel da Brigada Militar, em 2004, não usa outro traje que não a bombacha.
Natural de Casca, pensou em ser padre e, por cinco anos, foi seminarista. Abandonou a ideia para ajudar a cuidar dos irmãos. É o terceiro de uma família de nove filhos. Aos 20 anos, ingressou na Academia da Brigada Militar, em Porto Alegre, onde o jovem que gostava de "coisas velhas" encontrou em dois professores, os escritores Hélio Moro Mariante e Lilian Argentina, o incentivo para se aprofundar na história do Rio Grande.
Bastou para, já em Caxias do Sul, em 1991, como Capitão da Brigada Militar, se tornar o patrão do CTG Heróis Farroupilha durante quatro anos e ingressar no curso de História. Não parou mais. Coordenou a 25ª RT nos anos de 1996 e 1997. Foi vice -presidente do MTG em 1999 e 2000, e presidente entre 2001 e 2006, exceto em 2004, quando assumiu o cargo de patrão do CTG Campo dos Bugres.
Foi presidente do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore - IGTF (2007 a 2010) e da Confederação Brasileira de Tradição Gaúcha - CBTG (2012 e 2013).
De volta ao principal cargo de liderança do maior movimento cultural organizado do mundo, fez questão de acompanhar as posses de todas as coordenadorias regionais e não esconde os motivos que o levaram a adiar duas viagens internacionais, para visitar dois irmãos em Londres e Dublin e batizar a afilhada de dois anos que ainda nem conhece.
- Como qualquer instituição, o MTG tem de deixar claro qual a sua posição. Não pode ficar em cima do muro. Também não pode tomar decisões sem ouvir a base. Isso cria uma instabilidade muito grande. O MTG se dividiu em dois pedaços. É preciso se recompor - avalia.
Os desafios para 2014
Em ano de Copa do Mundo, é hora dos gaúchos mostrarem aos estrangeiros a cultura e folclore rio-grandense. Especialmente para o evento, um acampamento extraordinário será montado no Parque da Harmonia, em Porto Alegre, entre 12 de junho e 13 de julho.
Atividades da lida campeira mesclam-se com shows de artistas locais e uma mostra das etnias que formaram o gaúcho, como alemã, holandesa, polonesa, açoriana, negra e italiana. Cerca de 150 galpões serão montados e a estimativa de público é de 1 milhão de pessoas.
Mas há muito mais do que a Copa em 2014. Promover, e com qualidade, eventos já tradicionais do movimento, como o Encontro de Arte e Tradição Gaúcha (Enart) e a Festa Campeira do Rio Grande do Sul (FECARS) é, na opinião de Savaris, desafio maior que montar acampamento.
- Esses eventos têm mais de 25 anos, com uma grande trajetória. Cada dia é mais difícil conseguir patrocínios e cada vez a exigência por parte dos próprios tradicionalistas é maior - complementa.