É pelo apelido que Crodoaldo Valério ainda povoa o imaginário dos telespectadores. Personagem de Fina Estampa, novela das nove encerrada em março de 2012, Crô caiu nas graças do público de tal maneira que o diretor Bruno Barreto decidiu levá-lo ao cinema. O autor da trama, Aguinaldo Silva, também ficou responsável pelo roteiro do filme estrelado por Marcelo Serrado.
Aguinaldo conta que decidiu humanizar o mordomo para torná-lo mais consistente e diz ter escrito uma comédia diferente das usuais, "que parecem uma pelada jogada pelos astros de tevê". Herdeiro milionário de Tereza Cristina, interpretada na novela por Christiane Torloni, o protagonista sofre uma crise existencial com o ócio e decide procurar uma nova diva para servir.
- Crô tem um objetivo, que passa pelo fato de que só dinheiro não traz felicidade - explica Aguinaldo.
Confira os principais trechos da entrevista:
Almanaque: Crô é seu terceiro personagem de tevê a virar filme. Qual foi o maior cuidado ou o maior desafio de transportar um personagem de sucesso da televisão para o cinema?
Aguinaldo Silva: Dar mais consistência ao personagem. Na novela, Crô é episódico, na verdade, um coadjuvante que se tornou maior que a novela. Mas, no filme, é o protagonista absoluto, e o espectador sente necessidade de saber mais sobre ele. Eu diria que no filme Crô é mais "humano" e menos personagem de "banda desenhada". Além disso, tem um objetivo, que passa pelo fato de que só dinheiro não traz felicidade, é preciso que a pessoa seja útil e faça alguma coisa. Tive essas preocupações todas e tive outras, como levar em conta que o Crô é amado pelas crianças, e o filme não podia ser proibido para elas.
O Crô é uma espécie de "menina dos olhos" sua? Se sim, por quê?
Não, o Crô não é uma menina dos olhos para mim, mas Fina Estampa, a novela na qual ele esteve inserido, é. Afinal, ela é a recordista de audiência dos últimos cinco anos, como outra novela minha, Senhora do Destino, é a recordista do milênio. Números de audiência são um patrimônio pelo qual um autor de novelas deve zelar, e Fina Estampa, neste capítulo foi um grande sucesso. Até que eu consiga suplantar os números que ela alcançou, será sempre minha menina dos olhos.
O que as pessoas podem esperar do filme? O senhor espera um grande sucesso de bilheteria?
As pessoas podem esperar uma comédia diferente. Não nos moldes das comédias que o cinema brasileiro anda produzindo, e que, na verdade, parecem mais uma pelada jogada pelos astros da tevê no intervalo entre uma novela e outra. Crô é uma comédia aloprada, resgata no Brasil uma linguagem que sempre foi muito cara a Hollywood e, principalmente, não é televisão, é cinema. Espero que o público perceba a diferença, e o filme se torne um sucesso.
O gênero comédia, no cinema nacional, vive uma grande fase, com vários filmes emplacando continuações. O senhor e Bruno Barreto já aventaram essa possibilidade sobre Crô?
O filme tem um final em aberto, o que significa que sim, eu e o Bruno Barreto pensamos numa continuação. Mas, claro, só se o sucesso do filme justificar isso.
O senhor é um workaholic assumido. Ao mesmo tempo, cuida do lançamento do filme, escreve a série 'Doctor Pri' e dá o start na sua próxima novela das nove que estreia após a Copa do Mundo. Além disso, é empresário de sucesso, proprietário de dois restaurantes e está prestes a se aventurar no ramo calçadista. Qual o segredo para tanta vitalidade numa idade em que seus pares já pensam em aposentadoria?
O segredo é, primeiro, esquecer esse negócio de idade e, depois, imaginar que nossa vida está começando sempre no dia seguinte. Todo dia, quando eu acordo, a primeira coisa em que penso é que aquele será o primeiro dia do resto da minha vida e, por isso, preciso trabalhar, produzir, fazer tudo que puder e, assim, estar pronto para continuar no dia seguinte.