Sabe aquela fase em que o adolescente está terminando o Ensino Médio e projetando cursar uma faculdade ou tentar um emprego? É comum que gere alguma preocupação, mas, via de regra, o suporte da família é suficiente para dar um jeito nas coisas. Agora, imagine esse cenário para uma pessoa que vive em uma casa-lar ou abrigo e que, ao se aproximar dos 18 anos, entra em contagem regressiva para ter de se aventurar sozinho no mundo?
É que essas instituições acolhem crianças e adolescentes afastadas das famílias por determinação da Justiça em função de desestruturação, abandono ou agressão, mas eles só podem ficar no sistema de acolhimento até que atinjam a maioridade civil. Depois disso, têm de deixar os locais, precisam conseguir um lugar para morar, uma forma de se sustentar, cuidar das próprias coisas, aprender a viver sozinhos.
Foi pensando em ajudar esse público que um grupo de voluntários, entre eles, empresários e profissionais liberais, construíram o Projeto Crescer. A iniciativa começou, na prática, em agosto deste ano, mas era pensado há anos. O frei capuchinho Jaime Bettega, diz que o projeto faz parte do plano de ação da Associação Mão Amiga que resultou na abertura da Casa de Acolhida Papa Francisco, em abril de 2019. O lar, mantido em parceria com a Associação de Dirigentes Cristãos (ADCE), recebe os egressos do acolhimento com idades entre 18 e 21 anos.
— Percebemos que essa meninada que está para sair dos abrigos (e casas-lares) precisa ser trabalhada antes de ir para a Casa (Papa Francisco). O Projeto Crescer surgiu quando pensamos: o que vamos fazer com essa meninada? Vamos apenas dar um lugar para eles residirem? Ou vamos também prepará-los para a vida? — lembrou o capuchinho.
A partir desses questionamentos, foi construído o formato do projeto, que tem como um dos principais pilares o voluntariado. Atualmente, são cerca de 60 colaboradores. Um deles é o empresário Fernando Gonçalves dos Reis, que já participava das ações da Mão Amiga e compartilhava o desejo de atender a essas necessidades:
— Me chamou a atenção o fato de que muitos desses jovens saíam das casas-lares e abrigos e não tinham uma perspectiva depois para inserção no mercado de trabalho e a própria inserção na sociedade era difícil para eles, até em ter autonomia, porque enquanto eles estão dentro das casas e dos abrigos, tem as pessoas que se preocupam com tudo para eles, cuidam de tudo. No momento em que eles saem das casas e dos abrigos eles têm que se virar. Então, desde a questão de documentos, da organização da casa, de ir ao mercado... coisas que para nós são básicas, para eles não são. E evoluindo para questões de trabalho, de qualificação e preparação para o mercado.
A ideia ganhou força no ano passado (2018), com a entrada do empresário na diretoria da ADCE. A entidade apoiou a iniciativa e começou a articular a formação do grupo de voluntários. A ideia é ampliar em 2020 com atividades possivelmente dentro das casas-lares e abrigos para aqueles que não foram inseridos neste primeiro momento do projeto. Está em estudo ainda estender o Crescer, com as adaptações necessárias, aos adolescentes e jovens que cumprem medidas socioeducativas no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) de Caxias.