A tradutora são-marquense Candice Soldatelli leu pela primeira vez o livro Ghost Rider, escrito pelo lendário baterista do Rush, Neil Peart, enquanto estava na praia, lá nos idos de 2012. Gostou tanto do conteúdo — até hoje o considera uma obra-prima — que logo se animou em indicar para amigos. Procurou pela versão em português e descobriu que o livro ainda não havia sido traduzido no Brasil. Lembrou então que a editora Belas Letras tinha um acervo legal de títulos com temática de rock rock e resolveu mandar um e-mail sugerindo.
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Editora caxiense lança livro escrito por Neil Peart, um dos maiores bateristas da história do rock
— Engraçado que eu achava que a Belas Letras era de São Paulo, olha só. Aí, eles disseram que tinham interesse e pediram se eu queria fazer um teste na tradução. Fui aprovada e o resto é história — conta ela, sobre o primeiro contato com a editora caxiense.
De lá para cá, foram quatro livros de Neil Peart traduzidos, um quinto ainda deve ser lançado até o fim do ano. O título mais recente é Traveling Music - Música Para Viagem Volume 1, que a coluna te mostrou dias atrás. E essa introdução toda é para contar que Candice vai participar de uma live, nesta sexta (10), ao meio-dia, para falar mais sobre sua relação com a obra de Neil Peart e com o próprio músico, com quem chegou a trocar e-mails diversas vezes. O papo será transmitido pelo YouTube (veja abaixo), e terá participação do editor da Belas Letras, Gustavo Guertler.
— Traveling Music foi o primeiro livro que traduzi do Neil Peart e que não consegui trocar uma ideia com ele. Todos os outros sim, mas neste, infelizmente, ele já não podia me atender por causa da doença. Até tentei entrar em contato, mas um dos agentes dele dizia que ele estava "de férias" ou "viajando". Agora sabemos que, na verdade, ele estava com câncer em sua fase terminal. Das outras vezes, ele sempre foi muito solícito e detalhista nas respostas às minhas dúvidas. Só conversamos por email, nunca pessoalmente — lembra Candice.
Neil Peart, considerado um dos maiores bateristas da história do rock, morreu no dia 7 de janeiro, aos 67 anos. A música, elemento tão intrínseco ao universo do autor — principalmente no livro Traveling Music — foi o que aproximou Candice num primeiro momento:
— Eu ouço Rush desde que eu era criança, meus tios tinham os discos. Lembro que era trilha do Jornal do Almoço numa época, então, essa relação começou lá atrás. Depois, na adolescência, eu também ouvia muito. O Rush é aquela banda que me acompanha a vida inteira.
Neil Peart é considerado uma espécie de Deus para os fãs do Rush, não só por sua técnica descomunal atrás das baquetas, mas muito por sua filosofia de vida, responsabilidade que pesou sobre os ombros de Candice ao traduzir as palavras do cara por aqui. Mas mergulhar profundamente nas visões de mundo do baterista só fez a admiração da tradutora aumentar.
— Para mim, ele é como se fosse um mentor, um guia, ele tinha uma cabeça iluminada, uma pessoa das ideias, do pensamento, do iluminismo. O Neil sempre foi muito avançado para a época dele. Hoje, neste 2020, muitos livros que ele escreveu lá atrás, você pode buscar alguma visão que joga uma luz para a nossa época. Ele tem um pensamento muito clássico, vejo muito do estoicismo no pensamento dele, acho que cabe muito para a nossa época, inclusive — elogia a tradutora.
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