As viagens de carro pela Sinimbu quando eu tinha por volta de 7 ou 8 anos proporcionavam um cenário único. Lá no fim do horizonte, parecendo distante demais para ser crível, triunfava imponente o prédio onde morava minha tia. Vira e mexe, a vista virava assunto no carro, já que eu passava várias tardes por lá para brincar. Era um condomínio gigante, com alguns cantos que viravam esconderijo, passarelas que se transformavam em cavernas, e um espaço tão vasto que era fácil se perder... Até que eu cresci.
Não faz muito que eu passei na frente deste mesmo prédio e dediquei alguns minutos para enxergar por trás das grades do portão. Confesso ao compartilhar que, à primeira vista, um sentimento de desapontamento tomou conta de mim, e levei algum tempo para processá-lo. Procurei pela imensidão que ainda morava em minha memória, tentei descobrir onde é que tinha ido parar todo aquele cenário gigantesco que serviu de inspiração para diversos mundos quando eu era criança, e de fato não encontrei.
“É que agora eu cresci”, falei baixinho só para mim mesmo.
Crescer é, inevitavelmente, adaptar-se ao mundo ao nosso redor. Por mais que as lembranças queiram nos manter presos à eventos e pessoas e lugares e situações específicas que realmente nos marcaram de alguma forma, a vida nos puxa para frente e nos pede para continuar. Crescer também é ganhar altura e peso e ocupar mais espaço do que se ocupava antes. Automaticamente, é reduzir de tamanho tudo aquilo que um dia, para nós, já foi imensidão. E é assim que o escorregador do parquinho do bairro não parece tão assustador, as braçadas de um lado a outro da piscina se dão em menor quantidade, o quintal de casa que antes se transformava em caverna, reino encantado, barco pirata, pista de automóveis e parque de diversões agora é só uma grama não-tão-verde que precisa ser aparada.
Dirigindo pela Sinimbu dias atrás, novamente avistei o prédio que minha tia já morou e sabe-se lá quem mora agora. Ele não desponta mais imponente, sozinho no horizonte, triunfando como algo colossal. Na verdade, ergueram dois prédios novos, e ambas as torres parecem ter mais que o dobro de altura do “prédio da minha infância” — e ainda nem devem ter terminado de construir. Será que fui eu que fiquei grande, ou será que o mundo é que não para de crescer?
Seja qual for a resposta, sei que ela assusta. E que ninguém nos preparou para isso.