Tem dias que eu não sirvo para nada. Eu posso ter o maior dos compromissos, o prazo para entregar algum trabalho pode estar chegando ao fim, ou quem sabe eu tenha todo o tempo livre que sempre quis, mas mesmo assim parece que nada desenrola. E eu nem falo exclusivamente de bloqueio criativo, mas sim daquela sensação de que não estamos produzindo tudo aquilo que sabemos que podemos. O que fica, então, é o sentimento de incapacidade. Mas aqui vai uma daquelas obviedades que a gente só descobre com o passar dos causos: nós não precisamos ser sempre produtivos.
Os dias de pandemia contribuem para esse pensamento. É difícil acreditar que enfim temos todo o tempo que nunca tivemos e ao mesmo tempo temos dificuldade em tirar do papel alguns planos que sempre traçamos e nunca foram executados por falta de... tempo! Será?
Dias atrás eu planejei um final de semana de trabalho inteirinho. Depois de me alimentar e preparar um café para aguentar a jornada, o meu canto mais confortável me esperava para eu finalmente fazer acontecer. Eis que as horas foram passando e a cada minuto eu encontrava uma distração nova, sem contar as checagens nas redes sociais que, ao mesmo tempo em que entretinham, me traziam a lembrança de que eu precisava continuar sendo útil.
Depois de muito tentar e não obter sucesso, desisti. E aí está mais uma verdade que a gente se dá conta com muito esforço: está tudo bem em jogar a toalha de vez em quando. Nós nem sempre vamos estar produtivos, alguns dias vão ser mais nublados que os outros, e nada que a gente faça vai ser o suficiente para que consigamos mudar esse cenário. Falo isso porque precisamos de uma pausa para tudo. Nesses dias, então, é como se o nosso próprio corpo sussurrasse: “me respeita”.
E cabe a nós respeitar, sabe? Talvez um dos tantos olhares positivos que tenhamos que ter neste momento seja o de reparar que o mundo não precisa girar sempre tão depressa, que algumas coisas demandam tempo, e principalmente espaço.
Resolvi me afastar de tudo aquilo que eu mesmo havia me proposto e fui passar o tempo sem comprometimento algum. Assisti mais de um filme, conversei com algumas pessoas que devia atenção há tempos, descobri músicas novas e até reparei que todos os dias existe um pôr do sol lindo e que nos espera para ser assistido. No dia seguinte, mesmo sem planejar, a mágica aconteceu. E então eu escutei uma voz um pouco mais alta que surgia mais uma vez de dentro de mim – só que agora ela dizia: “obrigado”.
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