Começo de semana é sempre uma chatice. Mas depende. Toda vez que uma segunda-feira se aproxima eu já fecho a cara, como se fosse uma obrigação geral ser antipático em um dia tão rejeitado. Entretanto, tenho tentado me policiar nas últimas semanas: faço questão de lembrar do meu pai as 6 horas da manhã, mesmo nos dias de inverno, assoviando e cantarolando enquanto se arrumava para me levar para a escola e ir trabalhar. Aquela era uma demonstração de ânimo e felicidade (já nas primeiras horas do dia) que eu nunca consegui entender muito bem. Mas tudo bem, porque eu acho que algumas coisas nós só entendemos quando ficamos mais velhos mesmo. E quer saber? Ele estava tão certo! A graça disso tudo era que, olha só, ficar feliz (mesmo tão cedo) era de graça. Sempre foi. Ainda é. Então lá vai a tão temida pergunta: por que não?
Escrevo este texto porque é segunda-feira. E também porque acabo de dividir o elevador – sim, uma experiência social um pouco temida por todos – com uma vizinha que eu nunca vi de cara feia. É claro que ela deve ter os seus dias ruins, porém todas as vezes que nos encontramos eu a vejo sorrindo. Ela pergunta como eu estou e eu sinto que ela realmente está interessada em saber como eu estou. Você até pode pensar que isso é algo natural das pessoas mais idosas (de novo, algumas coisas só vêm com o tempo), já que as pessoas com privilégio de viver por muitos anos sempre parecem mais interessadas em conversar, porém, a minha vizinha deve ter no máximo uns trinta e poucos anos! E, sim, ela sorri.
Nas.
Segundas.
De alguma forma inexplicável, o meu dia melhora. E foi a partir deste encontro que eu comecei a pensar sobre como nós temos essa tendência em amar tudo aquilo que é gratuito. Qual é, eu já trabalhei com eventos, sei que você pode estar no maior e mais importante congresso do mundo, que ainda assim as pessoas vão fazer fila se você estiver dando um singelo lápis de graça. Você tem ideia de quantas pessoas compram um hambúrguer só porque a promoção diz que o refrigerante é gratuito? Sério, é chocante.
Até aí, tudo bem. Cada um com o seu mimo. Porém, o mais trágico da história toda (e infelizmente sempre tem um lado negativo – desculpa aí, Poliana), é que nós não estamos tão preparados assim para dar alguma coisa gratuitamente. Eu sou um bom exemplo para começo de conversa: adoro receber o sorriso e conforto das palavras da vizinha, adoraria um lápis de graça mesmo que com o logotipo de uma empresa, e provavelmente compraria dois hambúrgueres só para receber dois refrigerantes de graça. Mas quando é que eu estarei pronto para ofertar algo em troca? Algo sem custo mesmo, tipo um abraço ou sei lá.
Eu te desafio a reservar os próximos dois minutos para pensar nas coisas gratuitas que recebe e naquelas que você entrega. Vou estar fazendo o mesmo, acredite. E esse esforço também é de graça, olha que legal! Para te/nos ajudar, vou deixar uma lista aqui com várias gratuidades que temos à pronta entrega para você continuar o raciocínio. Lá vai: um telefonema (eu não disse um áudio), um puxar de assunto (pode ser com um total estranho), um cheirinho no cangote (tente esse com uma pessoa próxima, ok?), ou até quem sabe uma carta (acabei de confirmar aqui e elas ainda não entraram em extinção).
Seja qual for a escolha, a minha sugestão de destinatário está na resposta desta pergunta (a última, eu juro): já pensou no presente de Dia das Mães?