A minha adolescência foi pautada em assistir programas de televisão vespertinos. Em uma época onde a internet era discada (depois da meia noite era mais barato, lembra?) e o celular era artigo de luxo e ainda estava longe de ser um aliado do entretenimento, o que restava eram as opções que a televisão proporcionava – e elas não eram muito convidativas, viu?
Lembro que lá pelo começo dos anos 2000, a moda do momento era aquela infinidade de aparelhos tecnológicos que prometiam revolucionar o nosso modo de vida. Meus pais e eu até caímos na cilada uma vez, quando compramos uma cinta que vinha com gel específico e tremia quando usada ao redor do abdômen. A propaganda era clara: você não precisa mais de academia! Basta usar o Abtoner Ultassonic Power Plus Ultra Mega 2000 e você terá automaticamente um desses corpos esculpidos que estão aparecendo na sua tevê.
E a gente acreditava. Mas tenho certeza que a gente fazia isso porque os tempos eram muito diferentes, assim como o acesso a informação. Então era só um infomercial aparecer querendo nos vender pílulas de rejuvenescimento milagrosas que nós ficávamos tentados (acho que a grande curiosidade mesmo era saber se aquilo funcionava no fim das contas). Afinal, quem é que resiste à proposta de frete grátis com direito a brinde para os 200 primeiros que ligarem?
Tenho amigos que praticamente mobiliaram as suas casas com os canais de venda. Eu ia visitá-los e ficava impressionado com a máquina que fazia pão sozinha, com a omeleteira em formato divertido, ou com a inédita máquina de waffles (qual é, quando a gente imaginou que comeria waffles, afinal?!) e por aí vai. Apesar de todos estes exemplos ainda existirem, o que permaneceu mesmo na tela da tevê foram as famosas cápsulas de óleo de peixe e o tal do Ômega 3, os melhores amigos dos programas vespertinos que sobreviveram à modernidade. Eles são a prova de que nós insistimos em controlar o tempo, em remediar o envelhecimento como se ele fosse um tipo de inimigo, e não um processo absolutamente normal para quem está – olha só – vivo.
Tudo aquilo que é novo nos encanta, até porque, ninguém nunca está muito afim de admitir que ainda vive no século passado. A gente quer estar adiantado, como se a pressa fosse necessidade básica do ser humano, como se viver o dia de hoje fosse ultrapassado demais. No fim de tudo, a lição que tirei dessa história é que tem muita coisa passageira que a gente acredita que precisa. E que a beleza da vida está em admitir a idade que se tem e vivê-la da melhor forma possível – de preferência, comendo um waffle de vez em quando.