Vivemos em uma geração preguiçosa. Encurtamos todos os caminhos quando possível, e temos certa dificuldade em admitir que a paciência é um acessório de luxo que, mais do que nunca, anda obstinada para a sua extinção. No que diz respeito a saber onde estamos e para onde estamos indo, então, a sentença é óbvia: estamos todos perdidos.
Falo isso porque eu nunca fui uma dessas pessoas-bússola. Nasci em época de Google Maps, Waze e todos esses aplicativos que determinam a rota automaticamente e ainda nos brindam com tempo estimado e observações sobre o trânsito. Eu sempre adorei e sou um fiel usuário até hoje, é claro. Já o meu pai, em contrapartida, é totalmente o oposto. Ele desconfia do Waze e não gosta muito de dar o braço a torcer quando eu abro o aplicativo – “não precisa”, ele diz. Diferentemente de mim, meu pai sabe onde quer chegar – e, o mais importante, como chegar.
Era o tempo dos táxis, e olha que não faz muito. Hoje em dia eles ainda existem, mas podem ser considerados como um serviço de emergência ou de uso exclusivo do pessoal mais vintage (oi, mãe-sem-internet-no-celular). Mas o legal mesmo de observar é que os taxistas sempre souberam muito. Até porque, para embarcar nessa profissão (e sim, foi um trocadilho), é preciso conhecer o máximo possível de ruas, caminhos alternativos, rotas e tudo mais – e, veja bem, sem a ajuda de nenhum GPS. Ou ao menos era assim até um tempo atrás.
A tecnologia vem pra facilitar, isso é um fato. Ao mesmo tempo, eu me sinto completamente burro e preguiçoso vez que outra. Há alguns dias eu queria visitar uma igreja na cidade vizinha e estava sem celular. Logo eu, que já transformei o meu aparelho em uma extensão do meu corpo, precisei da ausência para me dar conta de que, sem ele, eu nunca cheguei em lugar algum mesmo. No fim das contas, o caminho foi difícil, foi duvidoso, e eu só cheguei no meu destino porque algumas pessoas na rua me ajudaram.
Talvez o mais triste disso tudo seja pensar que não estamos olhando o que está a nossa volta. Se estivéssemos, lembraríamos de pontos específicos que ajudariam a guiar o caminho. Mas não, estamos focados: no problema do dia, na música da rádio, nas contas que ainda não pagamos. A paisagem fica do lado de fora, enquanto aquela voz mecânica dita a rota e nós só dirigimos, bem assim, no automático. Estamos limitando a nossa visão – não importa o caminho, o importante é chegar – quando, na verdade, estamos todos perdidos.