Eu sempre fui muito inocente para um bocado de coisas. O resultado disso foi que, inevitavelmente, fui enganado diversas vezes, em qualquer que fosse a situação. Seja no primeiro amor que terminou em traição, seja em ambientes de trabalho onde eu fiquei para trás porque me entreguei mais do que deveria. A verdade é que nós não sabemos como o mundo pode ser difícil até tropeçarmos pela primeira vez.
Descobri que tinha me tornado um “adulto de verdade” na primeira vez que entrei na sala de um advogado. O meu pai estava junto, é claro, mas a situação me lembrou todos os filmes que eu tinha assistido até então: éramos os mocinhos correndo atrás dos nossos direitos que haviam sido feridos. Eu admito que nunca entendi como funciona o trâmite todo de processar alguém (até porque nunca tinha precisado), mas quando parei para pensar que, de fato, eu estava prestes a processar alguém, foi como despertar depois de 26 anos de sono ininterrupto.
Processei porque não me pagaram o que deviam. Processei porque não me deram o que, por direito, era meu. Mas não é exatamente isso que aprendemos lá atrás, quando ainda somos crianças? Se o brinquedo é do colega, eu não posso ficar com ele. O que é meu é meu, e o que é dele é dele. Devemos respeitar para sermos respeitados de volta, e devemos cumprir aquilo que prometemos. Sendo assim, o que é que acontece durante o caminho para que passemos a trair o que nos foi ensinado?
Lembrei da primeira vez que assinei um contrato. Eu não entendia metade das palavras ali escritas, mas nós insistimos em acreditar que as pessoas são boas, assim como as intenções que carregam. Puro engano; blasfêmia total. Estamos todos correndo atrás dos nossos objetivos, e alguns tendem a se refugiar em alguma brecha quando a encontram. Brechas na lei, brechas em textos com informações implícitas, brechas em contratos que são firmados com duas, três, quatro ou mais intenções escondidas.
É natural do ser humano: nos entregamos e fechamos os olhos. Acreditamos; doamos; firmamos; assinamos; consentimos. Até sofrermos perdas necessárias para descobrirmos que o mundo é bom, mas as pessoas podem (e conseguem) ser exatamente o oposto.