Era noite de quarta-feira e a semana já parecia ter acabado e recomeçado umas dez vezes. Lá fora chovia, e do lado de dentro o calendário anunciava o compromisso marcado para aquela noite. O jantar era em outra cidade e tinha sido marcado há algum tempo, o que automaticamente anulava as possibilidades de desistência. O único problema era bem simples, na verdade: eu não estava a fim.
Tem vezes que eu agendo todo o meu final de semana e acho que na hora nem penso direito. Marco compromissos, saídas, jantares e cafés no meio da tarde. E quando o dia chega, é claro que nem sempre a vontade lá de trás se cumpre. Afinal, somos outros a cada instante. Queremos coisas novas, mudamos de desejos e as nossas ânsias se reciclam porque somos feitos de momentos. O que eu quero exatamente agora talvez não seja a mesma coisa que vou querer daqui a alguns dias.
Prezo por um mundo de sinceridade, mesmo sabendo da gigantesca utopia que isso soa. Ao negar um convite (ou suspendê-lo, adiá-lo, como preferir), automaticamente cria-se um limite. Estamos não só sendo sinceros, como querendo que o outro entenda: não é o meu melhor momento, o dia não está legal, ou eu apenas gostaria de deixar para uma próxima. E não é que sempre estejamos sem vontade de cumprir determinado compromisso, e sim que temos aquela tal frequência que carregamos e que muda a cada dia, a cada novo minuto. Balanceá-la nem sempre é fácil, mas ao fazer o que se quer, a tarefa parece menos complicada.
O desafio, então, é entender que o tempo passa de maneira diferente para cada um de nós. Nem sempre os risos serão simultâneos, nem sempre as vontades agendarão horário e o cumprirão à risca. Talvez seja por isso que eu adore tanto a imprevisibilidade das coisas.
O respeito por si talvez pareça o mais simples, mas eu acredito que seja o mais trabalhoso. Apesar de fundamental, nós sempre gostamos de nos deixar para depois (claro, não é uma regra geral). Mas custamos em olhar para dentro e pensar: eu quero isso? Eu gosto do lugar para onde estou indo? Eu quero fazer isso agora? Isso vai me fazer bem?
Um segredo: pensar em si não é egoísmo. Eu diria que é necessário, uma vez que não só a nossa autoestima aumenta, como também as chances de estarmos em paz.
Tem dias que eu gostaria de dizer: “não vou”, simples assim, sem nem ter que dizer mais nada. E se alguém ainda insistisse muito em perguntar o porquê, eu justificaria, sereno que só: “porque não estou a fim”.
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