Espio a agenda nova em cima da mesa. Capa azul, diferente de todas as anteriores, sempre em preto. Talvez eu já quisesse, desde a compra na papelaria, dar outro tom ao meu cotidiano. Sim, 2023 tem que ser, no mínimo, azul! Chega de sombras e de cinzas. Chega de viver no nível de sobrevivência, como nos recentes anos. Felizmente, o céu vindouro traz alentos e respiros. Já não há condições para o clima regressivo e opressivo dos cíclicos encontros de Saturno e Plutão, como o que atingiu seu ápice em 2020. Estes astros, e mais Júpiter, planetas lentos indicadores do coletivo, mudam de signo em 2023, trazendo outros horizontes e desafios.
O grandioso Júpiter retomou sua passagem por Áries, por onde transita até 16 de maio. Eis uma configuração de semeaduras e propulsões, com o planeta da fé no signo dos começos. Depois de anos sob a pulsão de morte, é como se a vida se impusesse em ousadias e novos movimentos. A partir de maio, Júpiter passa para Touro, fortalecendo o que for gerado. Em seu giro de 12 anos em torno do Sol, Júpiter repete, em 2023, o caminho feito entre o começo de 2011 e os primeiros meses de 2012. Vale identificar os avanços daquela época, para entender os temas envolvidos agora. Júpiter representa boas promessas, mas que devem ser realizadas com esforço e atenção aos limites – e aí entra em cena Saturno, com sua prudência.
Por sua vez, o planeta dos anéis, em seu movimento de dois anos e meio em cada signo, ingressa em Peixes em março. Isso pode indicar uma estruturação ou ordenação (Saturno) nos loucos ou compassivos temas piscianos, que vêm sendo amplificados com a passagem do regente Netuno neste signo, de 2012 a 2026. Saturno pode ser o duro princípio da realidade, que põe fim a delírios e projeções, como também um compromisso com o que é excluído das estruturas sociais. Sua melhor expressão talvez seja um benéfico esforço coletivo para integrar as carências e diferenças. Auspicioso, não?
O terceiro ingresso de planetas em 2023 cabe ao distante Plutão. Este entra em Aquário por um breve tempo, de março a junho, depois retrograda a Capricórnio, até reingressar em Aquário, para um ciclo de 20 anos, em 2024. É o astro transformador e purgador de excessos num signo social. Da última vez que Plutão passou por Aquário, de 1778 a 1798, o conceito de sociedade mudou radicalmente, com a Revolução Francesa e os avanços científicos. Nada disso foi fácil, ou não teria sido revolucionário. Portanto, que ninguém espere utopias e mudanças como meros efeitos de uma mágica consciência planetária. Plutão rege o poder, que costuma resistir a mudanças.
Mas, como Plutão estaciona brevemente no limiar de Aquário em 2023, no mesmo grau zero onde houve em 2020 o encontro de teor humanista entre Júpiter e Saturno, já será tempo de fortalecer uma ideia de futuro que envolva a Terra inteira, com sua diversidade e seus conflitos. Se cada grupo (Aquário) radicalizar em suas pretensões, sem respeito aos demais, que paz será possível? E sem paz, que ideal de comunidade planetária poderá se efetivar? São temas duradouros já na pauta do novo ano. Evocam o diálogo e a participação de todos, o que é uma enorme vantagem em relação ao clima de tirania que andou a nos ameaçar.
Ufa!, ventos de esperança devem arejar nossas cabeças em 2023, abrindo-nos para o sonho, a partilha, a justiça social, o amor. Então, vou anotar na minha nova agenda azul: colaborar como puder para um mundo mais fraterno e mais justo. Vamos nessa?