— O presente nos falta.
Quando ouvi essa sentença, proferida pela artista visual caxiense Gabriela Stragliotto, radicada em São Paulo, que vai expor suas obras na Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim, a partir de 4 de maio, logo pensei em Lucia Santaella, doutora em Teoria Literária e livre-docente em Ciências da Comunicação pela USP.
Para Santaella, “o artista é que tem a cifra do presente e o farol para o futuro”. Simbólico e metafórico, ainda mais em se tratando da exposição Solo Provisório, que a Gabriela promove em Caxias do Sul. Nesse recorte que o público poderá conferir na semana que vem, muitas de suas obras apresentam cenários abstratos e figuras anônimas extraídas de seus ambientes originais.
— O presente nos falta. Demorar-se é um privilégio e uma rebeldia. Partindo dessa premissa, comecei a fotografar pessoas na cidade e transportá-las, por meio da pintura, para esses outros ambientes, deslocados do real. Pessoas desconhecidas e silenciosas com as quais também divido espaço e tempo. Uma vulnerabilidade comum a todos os corpos, que me inquieta e emociona — observa Gabriela.
Em meio ao provisório e transitório, talvez até com pitadas irônicas de alguns truques de ilusionismo, diante das obras de Gabriela, há que se refletir sobre os desdobramentos do tempo-espaço. Em nome da arte, “cifra do presente e o farol para o futuro”, Santaella defende: “Eu fico muito próxima do trabalho dos artistas, tenho muita curiosidade pelo que eles fazem, porque eles é que são capazes de ler o nosso presente”.