Confesso, já perdi pênalti em partida decisiva. Passava dos 40 minutos do segundo tempo, zero a zero no placar. Driblei um, dois, três e dentro da área o goleiro deu conta de me jogar lá pro mato. De bate-pronto, o árbitro marcou a penalidade máxima. Por causa desse carrinho lateral, que me atingiu a cintura, o goleiro levou um cartão amarelo pra aprender a não repetir mais isso. Na várzea, cartão amarelo é pior do que o vermelho.
Eu ali, diante do goleiro, aflito, pensei, vou bater cruzado, rente à trave, bem forte, pra não dar chance a esse cara que quase triturou minhas pernas. Pimba, chutei o gomo de couro branco, com força, bem no canto direito do goleiro. A bola, essa maldita, bateu na trave direita, correu por cima da linha, com desenvoltura e deboche, tocando a trave esquerda e saiu de mansinho, a tempo de o zagueiro adversário chutar a bola pra escanteio.
Fim de jogo. Zero a zero que dava ao time deles o troféu de primeiro lugar.
— Acontece, guri, fica tranquilo. Tu bateu bem até, mas não pode mirar a trave, senão dá nisso — disse-me o treinador, tentando consolar um guri inconsolável.
Dia desses lembrei dessa cena quando um empresário me relatava sua trajetória. Entre tantos desafios, contou que fez uma péssima escolha que resultou na quase falência do seu negócio. Eu que havia perdido apenas a oportunidade de levar pra casa uma medalha de latão banhada a ouro, ouvi que o tal empresário havia perdido milhões por causa de uma má escolha.
Quase foi à falência porque, felizmente, ele deu a volta por cima, equilibrando a capacidade de sonhar com a capacidade de estabelecer os alicerces desse empreendimento que hoje vale ouro.
Quando vi a bola tocar numa das traves, percorrer a linha e sair do outro lado, senti o peso do fracasso sobre meus ombros. Não havia sido a primeira vez, nem foi a última. Mais do que refinar a parte técnica, repetindo à exaustão as cobranças de pênalti, precisei entender que errar é do jogo.
A vida nos impõe uma marcação cerrada, dura, implacável e, por vezes, muito mais desleal do que o tal goleiro que pretendia amputar minhas pernas. Mas, se por um lado há uma legião que exige a perfeição plena de ações, posturas e discursos, os chamados infalíveis. De outro lado, estão os que se reconhecem imperfeitos, precários, que empilham fracassos em suas estantes, ao lado dos livros que ainda não leram. Faço parte e, sou partidário, do segundo grupo, que, confesso, desiste sempre dos cursos motivacionais.