Criada há pouco mais de um ano, a Nione, unidade de nanotecnologia da Randoncorp e Frasle Mobility, tem criado boas soluções ao mercado. A mais recente é uma resina epóxi de alta performance nanoestruturada com a pasta de pentóxido de nióbio nanométrico. A novidade tem a parceria de outra empresa brasileira, a Nanopoxy. O produto foi lançado na JEC World, maior feira sobre materiais compósitos do mundo, realizada neste mês na França.
O diretor de Tecnologia e Inovação da Randoncorp, César Augusto Ferreira, conversou com a coluna e explica do que se trata o novo produto. Ele também adianta que mais novidades vêm por aí na indústria de cosméticos. A Nione é a primeira empresa no mundo a desenvolver um método para obtenção de nanopartículas de nióbio em larga escala.
O que é esta nova solução desenvolvida pela Nione?
Desenvolvemos com a Nanopoxy uma forma de incorporar a nossa nanopartícula de nióbio à resina epóxi, que é um dos produtos que eles comercializam. Quando a gente faz isso, se altera a estrutura desse material e se consegue buscar outras características físico-químicas que mudam o comportamento desse material e trazem uma vantagem competitiva. Conseguimos, por meio de métodos que os nossos pesquisadores desenvolvem, uma forma onde muda a estrutura daquele polímero. Esse material é alterado, passa a ter outras propriedades e essas propriedades transformam o material, trazem um novo potencial de uso. No caso específico desta resina que a gente desenvolveu junto com a Nanopoxy, trouxe ganhos sensíveis na resistência desse material, elevando o TG, a temperatura de degradação. O material polimérico, conforme vai esquentando, vai degradando. Conseguimos que essa temperatura fosse num patamar maior e também um material mais rígido, mais resistente.
Qual é a aplicação?
Pode ser usada desde a construção de aerogeradores, as famosas pás eólicas, até prancha de surfe. Na indústria automotiva, a gente vê uso em molas de suspensão, em painéis de veículos, em componentes estruturais. O uso de materiais compósitos vem se ampliando de forma significativa nos veículos a fim de reduzir o peso e torná-los mais eficientes. Peso é sinônimo de ineficiência. Fazendo um paralelo simples, se você pegar hoje os carros superesportivos, eles já usam há muito tempo materiais compósitos, essencialmente a mistura de resinas com fibras, como fibra de carbono, só que, obviamente, essas soluções ainda são muito caras. O que a gente vem fazendo, como outras empresas do setor, é tentar trazer características às matérias-primas menos caras para que elas permitam que a gente amplie a utilização em outras categorias, em outros componentes do veículo. Tem uma gama de materiais que são usados nos veículos e é uma tendência a ampliação de uso de materiais alternativos aos aços e alumínios. Vem crescendo muito o uso de materiais compósitos, com fibras com resinas. Essas resinas cada vez mais eficientes, como exemplo dessa solução que a gente lançou junto com a Nanopoxy, ampliam o leque de utilização dessas resinas em aplicações mais complexas que, muitas vezes, demandam características mecânicas que nas resinas tradicionalmente não dopadas como essa que a gente fez com nanotecnologia.
Como está a comercialização dessa solução?
A Nione é um provedor da solução de nanotecnologia, então, a gente cria uma solução que permite a incorporação pelos nossos parceiros dessa nanopartícula nos seus materiais, nesse caso específico a Nanopoxy. A Nanopoxy fez essa incorporação dos reatores deles e passam a oferecer aos clientes a resina nanoestruturada.
O uso de materiais compósitos vem se ampliando de forma significativa nos veículos a fim de reduzir o peso e torná-los mais eficientes. Peso é sinônimo de ineficiência.
CÉSAR AUGUSTO FERREIRA
Diretor de Tecnologia e Inovação da Randoncorp
Já teve algum negócio fechado?
Obviamente, já tem algumas iniciativas de amostras sendo lançadas. Ela foi formalmente lançada há duas semanas, é muito recente, mas já causou grande impacto. Grandes empresas dos setores mais conectados a materiais. Posso destacar o setor da aeronáutica, se interessaram muito e a gente abriu conversas relevantes.
Qual será o próximo lançamento?
A gente tem trabalhos bem interessantes sendo desenvolvidos. Lançamos com um parceiro no começo do ano uma solução de pré-tratamento de superfície que também vai trazer impactos bem relevantes nesta indústria. A gente pretende continuar expandindo nessa área de químicos, de revestimentos de superfície e pinturas, a gente vê um potencial muito grande. Temos pesquisa em várias outras áreas, infelizmente algumas eu não posso falar, mas até na área de cosméticos a gente está tendo evoluções muito importantes em grandes multinacionais. São empresas bem relevantes no mercado internacional de cosméticos, estamos desenvolvendo trabalhos muito interessantes nessa área de nanotecnologia, de projetos estruturados que podem ser revolucionários em vários aspectos, não só nos aspectos funcionais, por exemplo, de barreira proteção solar, mas também em efeitos estéticos.