Eu mal alcançava a pia, mas com o apoio de uma cadeira, me metia a lavar a louça. Um dia, meu pai viu que eu deixava a torneira aberta enquanto ensaboava copos, talheres e afins — zero noção de sustentabilidade, mas ok, eu era apenas uma criança. Com seu jeito paciente de sempre, ele me disse:
— Filha, liga a torneira apenas quando for tirar o sabão. Assim, a gente economiza água e sobra mais dinheiro para comprar iogurte.
Imediatamente, acatei a sugestão e nunca mais deixei a água correndo à toa. Eu amava iogurte! Amava também achocolatado líquido, de uma marca famosa. Já adulta, fiquei sabendo que o pai preparava em casa o leite com chocolate em pó e colocava na caixinha com um funil improvisado. E eu nem notava a diferença.
Fui enganada, mas por uma boa causa. Era muito mais barato. Quer saber? Era bem mais gostoso também. Tinha gostinho de carinho e afeto.
Aliás, comida, lá em casa, era coisa muito séria. Minha mãe sempre bateu na tecla do desperdício. Nada de encher o prato e depois dizer que não quer mais. O conselho era: serve um pouco e, se gostar e quiser mais, repete. Não se coloca comida fora. Mais uma lição não apenas de economia, mas de consciência ambiental e social.
Mesmo envergonhada, eu vendia para os vizinhos as peças de malha que a mãe fazia e ganhava uma "comissão". Eu não recebia mesada e a mãe e o pai não eram de ficar liberando dinheiro. O básico nunca faltou, mas eles entendiam que era importante aprender a juntar "de grão em grão".
— Quando tu pedia algo e eu dizia que não, porque era muito caro, tu entendia — lembra a minha mãe.
Lições valiosas que levo comigo até hoje.