Com formação em Turismo e Hotelaria e mestrado em Bens Culturais e Projetos Sociais, Alexandre Frigeri sempre teve um olhar apurado para o universo das artes. Radicado no Rio de Janeiro há 33 anos e um constante frequentador da cidade de Paris, um dos berços artísticos do mundo, ele tornou-se um colecionador de obras de arte, e aprimorou o antigo hobby de fotografar como instrumento da sua vocação para este cenário.
Mixando sua paixão pela fotografia e pela arte urbana contemporânea, nasceu a mostra Paris: Olhares Alternativos, em que Frigeri exibe as imagens da Cidade Luz vistas de uma perspectiva diferente do olhar turístico, que está em cartaz no Instituto SAMbA, em Caxias do Sul.
Conheça um pouco mais sobre Alexandre Frigeri, caxiense há muito radicado no Rio de Janeiro, um amante das artes que se revela notável fotógrafo:
O que é arte?
É qualquer forma de manifestação ou criação estética que transmite uma percepção diferenciada da realidade no tempo e no espaço.
Qual sua primeira incursão no universo da arte?
Em 1985, quando recebi de presente da minha mãe uma tela de São Francisco de Ado Malagoli e, na mesma ocasião, ela adquiriu um quadro de Iberê Camargo, técnica mista dos carretéis. Daí em diante, não consegui parar de ter interesse em arte, com leitura, encontros com curadores, palestras, seminários e visitas a muitas exposições.
Existe algum artista em especial cuja obra influencia teu trabalho?
Gosto de Brassaï, Robert Doisneau e Jean Claude Gautrand. Todos retratam cenas do cotidiano urbano parisiense.
E quais são os grandes mestres brasileiros da arte contemporânea?
Antônio Dias, Waltércio Caldas, Eduardo Sued, José Bechara, Luiz Aquila, Amílcar de Castro, Ana Maria Maiollino, Mariannita Luzzati Maria Lynch, Anna Bella Geiger, Fernando Vilela, Gonçalo Ivo, Guto Lacaz, Marcos Coelho Benjamin, José Bento, o grupo Casa 7 (anos 80), e o grupo da famosa mostra “Como Vai Você Geração 80?”, entre outros.
Na fotografia destaco Claudia Jaguaribe, Pedro Mota, João Castilhos, Miguel Rio Branco, Thiago e Matheus Rocha Pitta, Otto Stupakoff, Thomas Farkas, Sebastião Salgado, Walter Firmo (autodidata que retrata as cores magnificamente e as riquezas da cultura brasileira como ninguém).
Qual seu maior orgulho profissional?
Ter estado a frente de um programa de formação profissional na área de turismo e hotelaria de abrangência nacional, pela Embratur, em hotéis e escolas, tendo sido responsável pela formação de dezenas de jovens e pessoas de baixa renda para o trabalho neste setor. Trabalho esse que teve um amplo reconhecimento e premiação por parte de empresários do setor.
Você também desenvolve um destacado trabalho como fotógrafo. Quais habilidades são essenciais para aprimorar o olhar para as fotografias?
Simplesmente estar atento a novas perspectivas e detalhes que, ao olhar de muitos, podem até mesmo parecer banais. Mas que, ao clicar, pode virar um momento único, como a fotógrafa e cineasta Agnes Varda dizia, e que menciono no meu catálogo da exposição Paris: Olhares Alternativos.
O que mais gosta de fotografar?
Arte urbana, o espaço público incluindo, principalmente, o grafite e detalhes arquitetônicos.
Uma obra precisa ter...
apelo, algo que instigue o desejo de possuí-la a qualquer custo.
Um ícone caxiense da arte contemporânea?
Xilogravuras de Mara De Carli dos Santos lado a lado às telas de Flávia Tronca, além do trabalho de Viviane Pasqual. Recentemente fui apresentado às obras de Bruno Eber por Pedro Sehbe, o que me pareceu também um trabalho muito interessante.
Qual obra de arte gostaria de ganhar ou comprar?
Gostaria muito de ganhar ou adquirir um Edward Hopper, do realismo solitário americano. E, passando para a realidade, uma tela do Gregório Gruber, que faz um trabalho retratando as metrópoles à noite. A série do Rio é fantástica!
Uma peça atemporal?
“Nighthawks” de Hopper
Que artista não pode faltar na casa de um colecionador?
Talvez Volpi, Iberê, Gerchman. Muito difícil porque cada um tem o seu olhar, o desejo de ter tal obra de artista específico e, lógico, a disponibilidade financeira.
Na minha a próxima aquisição, quero um trabalho de um grande artista chamado Maxwell Alexandre, um dos melhores artistas da atualidade, na minha opinião, que vive e trabalha na favela da Rocinha e transporta para as telas toda a sua vida e sua rotina desde a infância.
Uma obra de arte que salvaria para sempre...
“A Dança”, de Henri Matisse.
Qual a importância da arte como fator de identidade de um povo, de uma cidade?
É absolutamente fundamental, em todas as suas diferentes manifestações, seja pintura, cinema, escultura ou literatura.
Onde lhe interessa como inspiração para criar?
Onde o belo existe, o que depende muito da sensibilidade e do olhar individual, independentemente de técnicas.
Costuma utilizar elementos antigos ou com alguma história nos projetos que desenvolve?
As fotografias são o registro da história, tanto mais quanto simbolizam um momento no tempo.
Dicas culturais de Frigeri:
Os apreciadores de arte que circularem pelo Rio de Janeiro não podem deixar de conferir, além do circuito tradicional de museus, a coleção de gravuras de George e Mônica Kornis. São mais de três mil peças de uma coleção que se iniciou nos anos 1970. O instituto está localizado na casa que foi projetada pelo modernista Affonso Eduardo Reidy nos anos 1950 que também assinou a arquitetura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
No acervo destacam-se: a primeira gravura de Carlos Oswald de 1917, “políptico do Itamaraty”, de Faiga Ostrower de 1968, um marco na sua trajetória, 28 gravuras de Lívio Abramo criadas em 1947 para ilustrar o livro “Pelo Sertão” de Afonso Arinos.
Waltércio Caldas, Elisa Bracher e 30 gravuras de Iberê Camargo, bem como Carlos Vergara, Weslei Duke Lee e Rubem Gerchman com os quais iniciaram o acervo e que se tornou uma paixão que se estende até os dias de hoje.