Pergunto para amigos próximos como está a relação com seus filhos, principalmente os pequenos. Há mais de dois meses trabalhando em casa e com as escolas fechadas, viram-se forçados a uma convivência de vinte e quatro horas por dia. A maioria deles fez um gesto de suave desespero com os braços e respondeu que é um dos maiores desafios desse período. Dá para entender perfeitamente. O cuidado com as crianças, nas últimas décadas, passou a ser quase que integralmente terceirizado. No âmbito doméstico, certa dose de lazer, um tanto de liberação para uso do celular e, se descuidar, praticamente nem se percebe que esses dínamos em miniatura ocupam o mesmo recinto que os adultos. É a forma que nosso tempo encontrou para lidar com a sobrecarga de tarefas que são impostas. É irracional desejar que seja diferente. Administrar trabalho e família exige grande competência e a certeza de que isso continuará perpetuamente. Talvez em outra época, quando os deveres vinham arrolados a uma camisa de força e só existia um modelo de comportamento a ser seguido, nem sequer nascesse esse questionamento. O roteiro de uma existência já vinha definido e escassas variáveis cabiam dentro de um universo circunscrito a diminutas comunidades. A repetição pode gerar tédio, porém, engendra também segurança. Perde-se um tanto de liberdade, mas a ausência de um manancial de escolhas é um excelente antídoto para a ansiedade.
Opinião
Gilmar Marcílio: novos limites
Administrar trabalho e família exige grande competência e a certeza de que isso continuará perpetuamente
Gilmar Marcílio
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