Viver é confrontar-se. Toda ação implica estar diante do outro, ouvir e respeitar ideias que nem sempre coincidem com as que professamos. Num primeiro impulso, tendemos a tecer argumentos veementes para defender determinadas posturas. Porém, é mais construtivo receber as percepções alheias sem preconceitos pré-estabelecidos. É uma tarefa difícil a qual nem todos se entregam, pois exige uma contenção do próprio ego e uma disponibilidade para reavaliar nossa visão frente a um sem número de assuntos. Essa predisposição geralmente nasce quando já nos encontramos na maturidade e o desejo de permanecer no ringue diminuiu consideravelmente. Mas há vantagens em adotar a serenidade diante de qualquer altercação. Assim o prova a experiência e o bom senso. Agir sob o impulso emocional gera arrependimento. Sempre.
Imagine que alguém se queixe com veemência de uma atividade mal executada. Mas que poderia ser facilmente contornada. Dessas coisas que acontecem com qualquer ser humano. É chato, mas todos já passamos por algo parecido. Não considero isso falta de profissionalismo. Prefiro ser mais suave nesta questão. Penso: que importância isso vai ter daqui a cinco anos ou mesmo na semana que vem? Absolutamente nenhuma. Tudo irá para a vala comum do esquecimento. É a grande lição que nos legou o imperador e filósofo Marco Aurélio. Então, diante de situações como a descrita acima, ouço com todo a atenção, corrijo a falha e deixo a vida seguir com leveza. Quem ganha com isso? Quem permanece aquietado, pois a adrenalina não se altera e nenhum sentimento de raiva é acessado.
Se você reagir num tom de fúria, terá computado esse tempo como o das horas perdidas, inutilizadas pela incapacidade em manter o equilíbrio diante de um fato que poderia facilmente ser desconsiderado. Rapidamente tudo pode ser resolvido e o mundo seguirá indiferente aos nossos princípios de vaidade. Devemos, sim, defender com tenacidade o que acreditamos, mas dando a quem convive conosco a tolerância ao erro e a possibilidade de se redimir. Pronto. Uma boa amizade não foi desfeita e a sensação de ter agido corretamente é recompensada com uma doce paz de espírito.
Quem se compraz, que imponha suas opiniões com fúria, num tom acima do que a elegância permite. Não contem comigo para desempenhar esse papel. Quero abraçar a linguagem dos poetas, não dos que se revoltam por tudo e por nada. Um dia ou mesmo um minuto roubados são para sempre.
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