Conta-se que César, ao voltar vitorioso de suas batalhas e vendo a multidão que o aclamava, pedia a um escravo que sussurrasse em seu ouvido: "És velho, és calvo, és barrigudo." Era um lembrete para que ele não se deixasse inflar pelo orgulho do que é passageiro. Quando estamos no auge, é fácil angariar simpatia, concordância. Mas sempre há um rodízio de cadeiras. Alguém ocupará o lugar que hoje é nosso. Os antigos romanos, tão guerreiros e aptos a conquistar novos territórios, sabiam que sem a prática da humildade estariam fadados a entregar seu trono antes do tempo desejado. Nem sempre o poder transforma as pessoas em seres melhores. Mas é alentador saber que um homem que já comandou o mundo tinha esse tipo de pensamento. Séculos pesam sobre nós e essa verdade permanece imutável. Creio que a grandeza pode ser medida pela nossa capacidade em relativizar a importância do cetro e da coroa que algumas vezes temos sobre a nossa cabeça. Tudo é efêmero, mas essa compreensão quase óbvia passa ao largo da vida de tantos. Meu ego se compraz com elogios, mas sinto que uma crítica é mais proveitosa para o aprimoramento. Colho palavras lisonjeiras com gratidão, sabendo que elas podem fomentar um orgulho enganoso. Esse equilíbrio entre nossas habilidades e um eventual talento que nos distingue dos demais é essencial para não atropelar nossa humanidade.
Opinião
Gilmar Marcílio: humildade
É melhor nos encolhermos do que projetar os braços rumo ao infinito
Gilmar Marcílio
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