Ainda hoje procuro entender porque algumas pessoas se orgulham tanto ao dizer essa frase: "Comigo é assim: aprontou uma vez, não esqueço jamais." Tenho dificuldade em assimilar o que alguém ganha ao se postar num pedestal, acreditando que é dono da verdade e que sua cota de equívocos e desacertos é distribuída unitariamente entre todos aqueles que o cercam. Ou, também pode ser, não atribuir importância nenhuma às amizades, preteridas em prol da manutenção de um julgamento moral que nada acrescenta ao caráter. É uma rigidez estéril, que desconsidera o fato de que somos falíveis e nem sempre sabemos nos conduzir corretamente. Quando isso se dá de maneira deliberada, em plena consciência e com intenção de dolo, normal que nos sintamos magoados e que haja o desejo de afastamento de quem provocou a dor. É puro instinto de sobrevivência. Agora, alimentar esse sentimento de raiva como uma espécie de troféu a ser exibido, francamente, não consigo entender que ganho se pode auferir disso. Não deixa de ser curioso que em muitas situações quem profere essa sentença acima se diz bastante temente a Deus. Como sempre, entre e linguagem e a prática, a distância pode ser incomensurável.
Opinião
Gilmar Marcílio: o direito de errar
Como sempre, entre e linguagem e a prática, a distância pode ser incomensurável.
Gilmar Marcílio
Enviar email