É do ser humano pensar que tudo sempre estará presente: a energia elétrica a iluminar as noites, a água em abundância a nos permitir demorados banhos, as prateleiras dos supermercados abastecidas. Mas não só: podemos adiar a visita ao amigo que nos chama porque amanhã, claro, amanhã nada mudará e então destinaremos a ele meia hora de nosso exíguo tempo. E o que dizer de quem nos presenteia com seu amor? Na ordem sonolenta dos dias, perdemos a dimensão milagrosa que é ter alguém ao lado que nos escolheu, que cuida de nós. O hábito anestesia o olhar e transforma tudo em realidade ordinária. Ah, mas basta que, em longínquo horizonte, surja a possibilidade de perder e eis que, como num passe de mágica, tudo volta a clarear.
Opinião
Gilmar Marcílio: faltar para estar presente
Sei que tudo conspira para o torpor, a sonolência
Gilmar Marcílio
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