Há seres que, em sua fragilidade, veem o mundo desabar diante da menor adversidade. Não suportam uma dor de cabeça, andam pela vida como se estivessem numa trincheira em busca de invisíveis inimigos. Não parece ser uma opção, mas algo ligado à própria personalidade. Uma espécie de marca de nascença. Sofrem pelo que não deveriam, gastando-se inutilmente, antes do anúncio das possíveis tristezas que nos esperam. Não buscam consolo porque sentem-se imersos no inevitável. A religião pode atenuar um pouco as fatalidades reais ou imaginárias. Suspiram, enfraquecidos, diante de coisas tão pequenas, que mal lhes sobra forças para abraçar as perdas que a existência coloca em nosso colo. Lamentam o fim sem sequer estarem habilitados para os começos. Conhecem tão somente as vésperas, antecipando dilúvios, quando o que ocorria era apenas uma leve brisa. Não os expulsemos de nossos dias, pois seu quinhão é feito de chumbo, mesmo ao contemplar um jardim. Pois a realidade é sempre filtrada pelo nosso eu, e não há homem ou mulher que a veja de igual maneira. Convalescem sem nunca ter adoecido; sentem-se cansados bem antes de partir. Convidam-nos a partilhar com eles esse teatro das sombras, de poucas cores e raro sol. Onde há poesia, enxergam gravidade, noite, a alma em suplício diante do que se exaure. Morrem de manhã, sem conhecer a beleza dos crepúsculos.
Opinião
Gilmar Marcílio: Quem se entrega e quem resiste
Qual é nossa parcela de responsabilidade nos fracassos ou nos êxitos?
Gilmar Marcílio
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